Wednesday, October 29, 2008
O chef foi à escola, os alunos entraram na cozinha e os alimentos ganharam novas cores em Cascais
In Público (29/10/2008)
Catarina Pinto
«O cozinheiro italiano utilizou alimentos correntes polvilhados com doses de criatividade q.b. para captar a atenção dos mais novos
Augusto Gemelli não corre. A cozinha torna-se mais pequena, assim tão cheia. Gira sobre si mesmo e limpa o suor de uma busca interior. Percorre com o olhar os instrumentos, junta ingredientes, pinta de verde pedaços de batata, agita as frigideiras, completa a receita.
Na cozinha da Escola EB 1 n.º 2 de Cascais, o cozinheiro italiano, com a ajuda de várias funcionárias, parte à procura de um ingrediente especial: a criatividade. Para despertar o interesse de um público muito resistente à comida saudável, dão-se novas cores e novas formas aos já habituais alimentos que povoam os pratos das principais escolas portuguesas.
Na cozinha, Augusto Gemelli não corre, mas há quem o faça. As funcionárias da escola mostram mais pressa. De um lado para o outro, ultimam a primeira refeição que - ontem - deu vida ao projecto O Chef Vai à Escola. A iniciativa é financiada pela Câmara Municipal de Cascais, no sentido de promover, entre alunos e professores, o caminho por uma alimentação mais saudável.
Isabel Passarinho, uma das responsáveis pelo projecto, fala numa luta que tem lugar todos os anos nas escolas. É a luta dos vegetais e legumes versus crianças. Na maioria das vezes, são os mais novos que vencem, com a ajuda de uma arma de peso: a birra. A iniciativa surge, pois, no sentido de tornar a comida dos refeitórios mais apelativa, sem alterar ingredientes nem aumentar custos. "Houve uma necessidade local de trabalhar a educação alimentar", disse a responsável.
Na receita deste projecto, juntam-se os seguintes ingredientes: nove escolas do concelho, nove chefs famosos a custo zero, vários funcionários, diversos alimentos, muitos alunos, alguns professores, algum aparato e criatividade q.b. Resultado? Grande animação da criançada, muitas perguntas feitas ao cozinheiro, prato original e apelativo, porque afinal os olhos também comem. E, claro, um pouco de birra também não podia faltar, mais não fosse pela obrigação de comer sopa.
Na primeira escola a receber o projecto, enquanto uns comiam, outros aguardavam. A espera fazia-se lá fora, em fila pouco alinhada, que balançava ao ritmo da excitação e do vento que debandava mais do que o habitual. A ementa estava já a ser saboreada pela primeira levada de alunos. Primeiro a sopa de grão mais a custo, depois os pedaços de batata salteada e o peixe coberto de pão (ralado) de tomate e orégãos e, por fim, a sobremesa: risotto de leite com banana e espuma de canela.
Augusto Gemelli acredita que a iniciativa pode ter um resultado positivo caso tenha continuidade. O cozinheiro conhece Portugal há 12 anos e entende que as escolas portuguesas têm um problema: as instalações, que não permitem que a comida seja confeccionada no seu interior e tenha de ser distribuída por uma empresa de catering. Das 69 escolas do concelho de Cascais, apenas nove confeccionam as refeições nas suas cozinhas.
Por outro lado, o caminho para melhorar a alimentação dos alunos passa, segundo Gemelli, por "afastar a fast-food e provocar a curiosidade e abrir os horizontes gustativos das crianças".
Isabel Passarinho revela que a câmara pretende continuar o projecto e está já a cozinhar, junto da Associação de Cozinheiros Profissionais de Portugal, a realização de workshops dirigidos a agentes educativos e às famílias dos alunos.»
Catarina Pinto
«O cozinheiro italiano utilizou alimentos correntes polvilhados com doses de criatividade q.b. para captar a atenção dos mais novos
Augusto Gemelli não corre. A cozinha torna-se mais pequena, assim tão cheia. Gira sobre si mesmo e limpa o suor de uma busca interior. Percorre com o olhar os instrumentos, junta ingredientes, pinta de verde pedaços de batata, agita as frigideiras, completa a receita.
Na cozinha da Escola EB 1 n.º 2 de Cascais, o cozinheiro italiano, com a ajuda de várias funcionárias, parte à procura de um ingrediente especial: a criatividade. Para despertar o interesse de um público muito resistente à comida saudável, dão-se novas cores e novas formas aos já habituais alimentos que povoam os pratos das principais escolas portuguesas.
Na cozinha, Augusto Gemelli não corre, mas há quem o faça. As funcionárias da escola mostram mais pressa. De um lado para o outro, ultimam a primeira refeição que - ontem - deu vida ao projecto O Chef Vai à Escola. A iniciativa é financiada pela Câmara Municipal de Cascais, no sentido de promover, entre alunos e professores, o caminho por uma alimentação mais saudável.
Isabel Passarinho, uma das responsáveis pelo projecto, fala numa luta que tem lugar todos os anos nas escolas. É a luta dos vegetais e legumes versus crianças. Na maioria das vezes, são os mais novos que vencem, com a ajuda de uma arma de peso: a birra. A iniciativa surge, pois, no sentido de tornar a comida dos refeitórios mais apelativa, sem alterar ingredientes nem aumentar custos. "Houve uma necessidade local de trabalhar a educação alimentar", disse a responsável.
Na receita deste projecto, juntam-se os seguintes ingredientes: nove escolas do concelho, nove chefs famosos a custo zero, vários funcionários, diversos alimentos, muitos alunos, alguns professores, algum aparato e criatividade q.b. Resultado? Grande animação da criançada, muitas perguntas feitas ao cozinheiro, prato original e apelativo, porque afinal os olhos também comem. E, claro, um pouco de birra também não podia faltar, mais não fosse pela obrigação de comer sopa.
Na primeira escola a receber o projecto, enquanto uns comiam, outros aguardavam. A espera fazia-se lá fora, em fila pouco alinhada, que balançava ao ritmo da excitação e do vento que debandava mais do que o habitual. A ementa estava já a ser saboreada pela primeira levada de alunos. Primeiro a sopa de grão mais a custo, depois os pedaços de batata salteada e o peixe coberto de pão (ralado) de tomate e orégãos e, por fim, a sobremesa: risotto de leite com banana e espuma de canela.
Augusto Gemelli acredita que a iniciativa pode ter um resultado positivo caso tenha continuidade. O cozinheiro conhece Portugal há 12 anos e entende que as escolas portuguesas têm um problema: as instalações, que não permitem que a comida seja confeccionada no seu interior e tenha de ser distribuída por uma empresa de catering. Das 69 escolas do concelho de Cascais, apenas nove confeccionam as refeições nas suas cozinhas.
Por outro lado, o caminho para melhorar a alimentação dos alunos passa, segundo Gemelli, por "afastar a fast-food e provocar a curiosidade e abrir os horizontes gustativos das crianças".
Isabel Passarinho revela que a câmara pretende continuar o projecto e está já a cozinhar, junto da Associação de Cozinheiros Profissionais de Portugal, a realização de workshops dirigidos a agentes educativos e às famílias dos alunos.»
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