Monday, April 23, 2012

Projecto por concluir no Estoril


Opinião
Por Gastão Brito e Silva in Público


O Centro Comercial Cruzeiro entrou na história por ter sido o primeiro shopping de Portugal. O seu nome foi criteriosamente escolhido e não poderia ter sido outro, por estar rigorosamente localizado na intercepção das freguesias do Estoril, Cascais e Alcabideche, por ser também ali o ponto em que os aviões se encaminham para as suas rotas internacionais e por os seus promotores se chamarem Cruz, além da sua traça lembrar um navio de cruzeiro.
Durante a Segunda Grande Guerra, a costa do Estoril teve um grande impulso social. Portugal assumiu uma política neutral nessa ocasião e o país foi "invadido" por refugiados de toda a Europa. Sendo o Estoril uma zona rica por excelência, atraiu não só algumas personalidades de vulto, como foi também palco de acontecimentos de espionagem que marcaram o destino da guerra. Esta zona foi, também por esta altura, eleita por três casas reais que aqui se exilaram. Karol da Bulgária, Victor Emanuel de Itália e Juan de Borbón, conde de Barcelona, consagraram uma vez mais esta aprazível localidade, já antes frequentada pela realeza portuguesa.
Os centros comerciais já grassavam pela Europa e era uma grave lacuna no ponto de vista social e económico, a inexistência de uma estrutura destas no país. Foi edificado estrategicamente no Monte do Estoril, para fazer face às necessidades de um ávido jet set que frequentava esta bem afamada zona. A ideia deve-se a Manuel António da Cruz e João da Cruz, seu promotor, arquitecto e investidor. A primeira pedra foi lançada em 1947. O projecto desde o início que foi alvo de invejas que comprometeram o seu desenvolvimento, chegando a ser embargado por influência de Fausto de Figueiredo, que o via como uma ameaça ao casino que então geria.
Ultrapassadas as dificuldades, o projecto ficou concluído em 1951. A Revista de Turismo inclui uma extensa reportagem sobre este "grande melhoramento". A sua traça modernista, tal como a volumetria, foram pensadas em grande. Além das 40 lojas previstas, onde não faltaria uma casa de fados, restaurante panorâmico, salões de festas, dancing, salas de jogo e mirante, tinha ainda um ringue de patinagem onde se realizou um combate de boxe. Mas o seu mentor, João da Cruz, faleceu devido ao desgaste que todo o processo lhe provocou, ditando assim o destino deste fantasmagórico e lindo edifício, que nunca chegou a ser acabado.
O imóvel é hoje propriedade do BPI, que o pretende demolir, tendo suscitado um movimento de indignação dos cidadãos da zona sem que o seu destino tenha sido resolvido. Ruinólogo e fotógrafo

4 comments:

Anonymous said...

Uma das poucas vantagens da actual crise é suster estes atentados ao património.

Anonymous said...

Ruinólogo é o quê?
Um analfabeto armado em intelectual?

Gastão de Brito e Silva said...

Não... um Ruinólogo é uma pessoa que se dedica ao estudo de ruínas... só mesmo um analfabeto é que não consegue compreender!

Anonymous said...

Quem é o karol da "bulgária"?