tag:blogger.com,1999:blog-32007979.post3863941002819291594..comments2023-11-14T11:00:07.095+00:00Comments on Cidadania Cascais: Soneto da FidelidadeCidadania Cascaishttp://www.blogger.com/profile/02455874792603254031noreply@blogger.comBlogger4125tag:blogger.com,1999:blog-32007979.post-70141495448589143902008-11-28T09:51:00.000+00:002008-11-28T09:51:00.000+00:00Depois de ler a "pauta" politiqueira com a estatis...Depois de ler a "pauta" politiqueira com a estatistica das licenças de construção emitidas pelo grande maestro A. Capucho, nada melhor do que um texto sério e sensivel do mestre Vinicius.<BR/><BR/>Obrigado ao Paulo AdriãoAnonymousnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-32007979.post-53655690862928256912008-11-28T00:13:00.000+00:002008-11-28T00:13:00.000+00:00O Poeta também escreveu este texto sobre Portugal ...O Poeta também escreveu este texto sobre Portugal :<BR/> <BR/>" Obrigado, Portugal!<BR/><BR/>A gentileza humana parece ter feito seu último reduto em Portugal. E quando eu falo em gentileza, dou-lhe quase a acepção medieval de amor cortês, de medida, de mesura. É um povo que não levanta a voz, e ninguém pense que por covardia, mas por uma boa educação instintiva e um senso de afetividade. Essa desagradável invenção moderna, o berro, não encontra forma vocal na garganta de um português. Hitler, Mussolini ou Lyndon Johnson jamais poderiam governar esse "jardim d’Europa à beira-mar plantado", onde se fala baixo, ama-se com fervor e chora-se nas despedidas.<BR/> Essa tristeza, de que nós brasileiros somos os novos legatários, tem uma ancestralidade que vem de muitas dominações, muita submissão forçada, muito fatalismo histórico e geográfico. Povo afeito às guerras – ainda hoje as mantém no Ultramar – parece ele sofrer de um silencioso heroísmo na paz, como se a Desgraça, essa invisível espada de Dâmocles lenta e diariamente forjada pelo Destino, pudesse a qualquer momento cair-lhe sobre a cabeça. Quase humilde no trato pessoal, logo verificará quem o conhecer melhor que não se trata de servilismo, e sim de uma necessidade de não fazer vibrar além do necessário os frágeis fios que suspendem imanentemente os Maus Fados sobre sua existência. E é talvez por esse motivo que seus bons fados também são tristes, sempre a carpir as penas do viver e do amar.<BR/> Isto é tão mais curioso quanto, apesar de pobre e subdesenvolvido em sua grande maioria, o português é um povo saudável e de bom aspecto, com boa pele e dentes magníficos, bem certo fruto de uma alimentação mais adequada: nada como o brasileiro menos aquinhoado das regiões pobres do país, no geral malsão e banguela, além de irônico e desconfiado por mecanismo de descrença e autodefesa. A propalada "burrice" do português simples e iletrado nada mais é que uma forma sadia e vegetativa de ser (ou não ser, como queiram). Foi minha mulher quem matou a charada: "Eles não são burros", disse-me ela. "Eles apenas desconhecem que têm inteligência." E a decantada "esperteza" ou "inventiva" do pária brasileiro nada mais é que o antivírus da forma crônica da ignorância e indigência em que vive, tendo que se virar mesmo de fato para não juntar os calcanhares. O pária brasileiro tem que lutar não só contra os indesejáveis cromossomos da desnutrição; a dor de dentes endêmica e a cachaça de má qualidade, até um tipo de ensino – e isso quando é muito afortunado – em que lhe baralham a cabeça com uma língua cheia de preconceitos semânticos e acentos desnecessários – isso porque há decênios os cartolas da lingüística nas duas pátrias teimam em não simplificá-la, quem sabe para justificar a continuidade de seus jetons e sua dolce vita acadêmica.<BR/> Eu confesso que depois desta minha última viagem, e de um contato intermitente de três meses com sua gente, Portugal seria o único país da Europa onde eu poderia viver fora do Brasil: com eventuais incursões à Itália. Que adiantam o superdesenvolvimento e a kultura (assim mesmo com k) de um povo, como dois ou três que eu conheço, se neles a relação humana torna-se cada dia mais difícil e indesejável diante de um outro tipo de ignorância bem mais perigoso a longo prazo, como esse da reserva e falta de diálogo; da submissão a preconceitos econômicos falsos na verdadeira escala de valores; do aburguesamento progressivo e da mesmificação do mais pessoal dos meios de comunicação, que é a linguagem? Que qualidade é mais a prezar no ser humano, se não for a gentileza, o gosto de conviver, a boa vontade em cooperar, em socorrer, em dar-se um pouco em tudo o que se faz, desde trabalhar a amar, desde comer a cantar, desde criar no plano intelectual a fazer no plano industrial ou agrícola?<BR/> Obrigado, Portugal! No contato de tuas gentes, teus escritores e teus artistas, teus estudantes e teus simples – teu povinho das brancas aldeias! – eu senti que há ainda muito isso que cada dia mais falta ao mundo: carinho e sinceridade. Represados, talvez, nas latentes como o sangue sob a pele, e prontos a romper a crosta criada a duras penas, ao longo de um passado tão cheio de sacrifícios e infortúnios.<BR/> Obrigado, Lisboa, terra tão boa, gente tão gente, casas tão casas, amigos tão como já não se encontra. Obrigado, Coimbra que me recebeste em tua Academia e em teu Convívio e que me puseste uma velha capa sobre os ombros. Obrigado, Porto, onde teus estudantes quiseram não me deixar trabalhar em boate, porque não sabem ainda que a poesia e a canção têm de estar em toda parte (mas obrigado pelo gesto, estudantes do Porto!). Obrigado, Óbidos, que pareces feita no céu, tão linda e pura como uma avozinha menina que ainda usasse flores silvestres na cabeça. Obrigado, Évora, mãe alentejana de Ouro Preto, cidade onde mais que nenhuma outra se sente o Brasil colonial, o Brasil do Aleijadinho, cidade perfeita de gentil austeridade. Obrigado, Monserraz, que, esta não quero ver nunca mais porque se a ela voltar nela hei de ficar, entre seus muros brancos e seus homens e mulheres do mais franco olhar. Obrigado,Portugal. Resta sempre uma esperança. Eu voltarei."<BR/>Vinicius de MoraesPaulo Adriãohttps://www.blogger.com/profile/16456281994935935167noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-32007979.post-44505612692843625452008-11-27T23:52:00.001+00:002008-11-27T23:52:00.001+00:00This comment has been removed by the author.Paulo Adriãohttps://www.blogger.com/profile/16456281994935935167noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-32007979.post-75384021159199539992008-11-27T23:52:00.000+00:002008-11-27T23:52:00.000+00:00Gralha da Câmara... Para quem aprecia este poeta m...Gralha da Câmara... <BR/>Para quem aprecia este poeta maior uma boa dica é o site oficial http://www.viniciusdemoraes.com.br/<BR/>Delicoso para quem quer "perder-se" nos encantos da poesia do Mestre.<BR/>Lá pode-se consultar todos os textos em prosa e verso do Poeta, música, cinema, etc. Também é possível criar a sua própria "Antologia" selecionando e guardando as poesias e os textos que mais gosta :) <BR/><BR/>Percam-se :)<BR/><BR/>Abraços<BR/>Paulo<BR/>Soneto de fidelidade<BR/><BR/>De tudo, ao meu amor serei atento<BR/>Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto<BR/>Que mesmo em face do maior encanto<BR/>Dele se encante mais meu pensamento<BR/><BR/>Quero vivê-lo em cada vão momento<BR/>E em seu louvor hei de espalhar meu canto<BR/>E rir meu riso e derramar meu pranto<BR/>Ao seu pesar ou seu contentamento<BR/><BR/>E assim quando mais tarde me procure<BR/>Quem sabe a morte, angústia de quem vive<BR/>Quem sabe a solidão, fim de quem ama<BR/><BR/>Eu possa lhe dizer do amor (que tive):<BR/>Que não seja imortal, posto que é chama <BR/>Mas que seja infinito enquanto dure<BR/><BR/>Estoril - Portugal, 10.1939Paulo Adriãohttps://www.blogger.com/profile/16456281994935935167noreply@blogger.com