Tuesday, August 08, 2006
Cascais não é Sidney nem Bilbau!
In Público (4 de Agosto)
Foi recentemente apresentado em Cascais um projecto de requalificação para a malfadada marina de Cascais, que, lembre-se, matou para sempre (salvo se algum tsunami micro-cirúrgico nos valer) a mais bonita vista, o mais belo postal de Cascais, a pequena baía de Santa Marta. Além do mais, a actual marina é uma infraestrutura pesadíssima à vista e à bolsa, bastando para tal ver os veleiros que continuam a fundear junto à praia, evitando assim a marina; ou ir até aos serviços de restauração da marina para nos apercebermos disso mesmo: são maus, feios e caros. O resto são carros por todo o lado, sol de chapa, muito pó, enfim, o habitual. Por isso, pior do que está é impossível, pensará o cascalense mais despreocupado. Ora o pior é que a pedra-angular do projecto de requalificação é uma torre, auto-denominada "Hotel da Luz", com 100m de altura e 30 andares, feita de espelhos e transparências, a construir em pleno mar, e que os seus defensores pretendem fazer-nos crer que será o "novo farol" de Cascais, uma espécie de ópera de Sidney, ou do Guggenheim/Gehry de Bilbau. Decididamente que tal aberração, a ser feita, constituiria o golpe fatal na "minha" Cascais, já não digo na dos meus pais porque essa há muito que foi arrasada. Aos que defendem que aquela torre, ao ser "inteligente" e utilizadora de energias renováveis, seria um pólo de desenvolvimento turístico, eu só digo o seguinte: sejam pessoas inteligentes e párem de inventar coisas em Cascais! Cascais é (era) um destino turístico de qualidade porque se mantinha vila, e não dormitório; porque prevaleciam as árvores e o mar, porque era pacata e bonita como a Costa da Ligúria, por ex. Cascais não é Sidney, nem Portugal é a Austrália, nem os cascalenses, bilbaínos, nem os motivos dos que nos visitam, os mesmos! Ao Governo, que me dizem considerar este empreendimento como de interesse nacional, apelo a que ache o mesmo, sim, mas em relação aos mil e um atentados a Cascais (da Torre do Infante ao Hotel Eden, dos "J.Pimentas" aos empreendimentos junto ao Hotel Cidadela, do centro de escritórios São José ao Titanix, do Estoril-Sol ao Cruzeiro, da Penha Longa a Alcabideche, Bafureira e Chalet da Condessa, etc., etc.), que foram sendo feitos ao longo dos últimos 30-40 anos e que só demolindo se permitirá a Cascais voltar a ser um destino de turismo de qualidade, e não de pé descalço, ou de fim-de-semana de ocasião, como hoje acontece. E, dado que a "procissão ainda vai no adro", apelo ao Dr.Capucho para que, no caso de persistir em apadrinhar a dita torre (que prevejo, muito sinceramente, poder dar cabo dos seus dois mandatos; que foram o que de melhor aconteceu a Cascais nas últimas décadas, pelo menos em termos de recuperação do património, gestão processual, licenças de construção, etc.), pela importância e consequências da sua construção, proceda de maneira diferente da dos seus antecessores, e promova, desde já, o debate vivo entre todos os cascalenses (nados e por adopção), e, porque não, a realização de um referendo municipal em tempo útil. Erros passados não justificam erros futuros.
Paulo Ferrero
Foi recentemente apresentado em Cascais um projecto de requalificação para a malfadada marina de Cascais, que, lembre-se, matou para sempre (salvo se algum tsunami micro-cirúrgico nos valer) a mais bonita vista, o mais belo postal de Cascais, a pequena baía de Santa Marta. Além do mais, a actual marina é uma infraestrutura pesadíssima à vista e à bolsa, bastando para tal ver os veleiros que continuam a fundear junto à praia, evitando assim a marina; ou ir até aos serviços de restauração da marina para nos apercebermos disso mesmo: são maus, feios e caros. O resto são carros por todo o lado, sol de chapa, muito pó, enfim, o habitual. Por isso, pior do que está é impossível, pensará o cascalense mais despreocupado. Ora o pior é que a pedra-angular do projecto de requalificação é uma torre, auto-denominada "Hotel da Luz", com 100m de altura e 30 andares, feita de espelhos e transparências, a construir em pleno mar, e que os seus defensores pretendem fazer-nos crer que será o "novo farol" de Cascais, uma espécie de ópera de Sidney, ou do Guggenheim/Gehry de Bilbau. Decididamente que tal aberração, a ser feita, constituiria o golpe fatal na "minha" Cascais, já não digo na dos meus pais porque essa há muito que foi arrasada. Aos que defendem que aquela torre, ao ser "inteligente" e utilizadora de energias renováveis, seria um pólo de desenvolvimento turístico, eu só digo o seguinte: sejam pessoas inteligentes e párem de inventar coisas em Cascais! Cascais é (era) um destino turístico de qualidade porque se mantinha vila, e não dormitório; porque prevaleciam as árvores e o mar, porque era pacata e bonita como a Costa da Ligúria, por ex. Cascais não é Sidney, nem Portugal é a Austrália, nem os cascalenses, bilbaínos, nem os motivos dos que nos visitam, os mesmos! Ao Governo, que me dizem considerar este empreendimento como de interesse nacional, apelo a que ache o mesmo, sim, mas em relação aos mil e um atentados a Cascais (da Torre do Infante ao Hotel Eden, dos "J.Pimentas" aos empreendimentos junto ao Hotel Cidadela, do centro de escritórios São José ao Titanix, do Estoril-Sol ao Cruzeiro, da Penha Longa a Alcabideche, Bafureira e Chalet da Condessa, etc., etc.), que foram sendo feitos ao longo dos últimos 30-40 anos e que só demolindo se permitirá a Cascais voltar a ser um destino de turismo de qualidade, e não de pé descalço, ou de fim-de-semana de ocasião, como hoje acontece. E, dado que a "procissão ainda vai no adro", apelo ao Dr.Capucho para que, no caso de persistir em apadrinhar a dita torre (que prevejo, muito sinceramente, poder dar cabo dos seus dois mandatos; que foram o que de melhor aconteceu a Cascais nas últimas décadas, pelo menos em termos de recuperação do património, gestão processual, licenças de construção, etc.), pela importância e consequências da sua construção, proceda de maneira diferente da dos seus antecessores, e promova, desde já, o debate vivo entre todos os cascalenses (nados e por adopção), e, porque não, a realização de um referendo municipal em tempo útil. Erros passados não justificam erros futuros.
Paulo Ferrero
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