Monday, October 22, 2007

VILA MONTROSE, ALGUNS APONTAMENTOS HISTÓRICOS


Fotografia da Vila Montrose e Torre do Galo c. 1893

A Vila Montrose pertence a um conjunto de chalets edificados pela Companhia do Mont’Estoril em 1890-91. Mal acabaram as obras, a casa foi posta à venda e comprada por Thomas Reynolds, rico capitalista de Estremoz e um dos fundadores da indústria corticeira em Portugal. A Revista Occidente afirma em 20 de Junho de 1899 que o chalet Reynolds “é um dos mais bonitos” de todo o Monte-Estoril.

O momento mais histórico na vida deste imóvel ocorre em 28 de Setembro de 1892, quando Reynolds cede a casa à Rainha-Mãe, a Senhora D. Maria Pia, para esta passar alguns dias na recém criada estância de veraneio. Os monarcas, D. Carlos e D. Amélia, deslocam-se à Vila Montrose nessa mesma noite para jantar com a Rainha-Mãe. Para alojar as damas e criados da D. Maria Pia, é arrendado o chalet G (actual Torre do Galo) pertencente à Companhia do Mont’Estoril, que nesse tempo estava separado do jardim da Montrose pela Avenida de Trouville. D. Maria Pia ficou de tal modo encantada com o local que no ano seguinte compra o chalet de João Henrique Ulrich e estabelece a sua residência de verão no Monte-Estoril.

Em 1900, Eduardo John, conhecido banqueiro e sócio do Conde de Burnay, adquire a Montrose a Reynolds, bem como alguns lotes vagos do outro lado da rua a Leopold Kohn. A sua ideia é criar um enorme e luxuoso jardim romântico com cerca de meio hectare à volta da casa. Mas para realizar esse objectivo, John necessita de comprar a parte da Rua Trouville que separa os terrenos. Isto seria impossível não fossem as ruas do Mont’Estoril todas privadas. Em meados de 1900, John entra em negociações com a Companhia do Mont’Estoril e consegue convencer a administração a vender.



O relatório de contas de 1900 da Administração da Companhia do Mont’Estoril relata este episódio da seguinte maneira:
“Vendemos parte de uma das nossas ruas – a Avenida Trouville. Pouco inclinados a realisar esta venda acabamos por ceder, em virtude de o comprador se sujeitar a restituir, caso a transacção provocasse qualquer protesto.
Ninguém reclamou, mantendo-se, portanto, a venda.”

Foi também no ano de 1900, que Eduardo John requer à Câmara de Cascais autorização para reparar as fachadas do chalet e construir a cocheira que ainda hoje existe junto à Rua Alegre.



Todavia, os negócios correm mal a este banqueiro de ascendência inglesa e, em 1916, seus bens são penhorados e vendidos em hasta publica. George Demoustier, vice-consul da Bélgica e residente do Monte-Estoril, não perde esta oportunidade única e arremata o imóvel por 25.580$00.

Em 1939, a Vila Montrose sofre várias alterações à sua traça original. O telhado da torre é substituído por outro de betão e o terraço de madeira é removido. Três anos mais tarde, o pequeno anexo na parte norte do terreno é igualmente sujeito a obras.

No ano de 1972 são feitas partilhas entre os herdeiros de George Demoustier e a Montrose passa para uma sociedade detida pelos descendentes.

Em 1984, a Profª Raquel Henriques da Silva publica o artigo “Sobre a Arquitectura do Monte-Estoril, 1880-1920” onde faz um levantamento dos imóveis com maior interesse arquitectónico. Todas as casas descritas no artigo são posteriormente incluídas no catálogo-inventário de imóveis em vias de classificação do PDM de Cascais, e no inventário da Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais. Inexplicavelmente, houve apenas uma excepção…a Vila Montrose. Este “lapso” revela-se fatal quando a Câmara de Cascais aprecia um projecto de urbanização do local. Todos os pareceres técnicos encomendados referem que a Vila Montrose não consta da lista de imóveis em vias de classificação e, por conseguinte, não existe nenhuma razão para inviabilizar ou minimizar o impacto do projecto de construção.

A Vila Montrose permanece na família Demoustier até 2003, altura em que é vendida por 150 mil euros à Thidem - Gestão e Empreendimentos Imobiliários Lda. No mesmo dia, o imóvel é revendido aos actuais proprietários por cerca de três milhões e quinhentos mil euros.

Somente em Outubro de 2007, com a afixação do alvará de construção e a colocação dos tapumes, é que os moradores vizinhos e a população de Cascais descobrem que foi aprovado um condomínio para o local que contempla aproximadamente 7400m2 de nova construção distribuído por três blocos de quatros pisos.

© 22 Outubro 2007 – Vasco Stilwell d’Andrade

1 comment:

J.N.Barbosa said...

Esclarecedor. A negociata final é típica. Obviamente que pagaram os impostos todos de mais valias.