Wednesday, February 09, 2011

ICNB limita intervenção com fogo em Sintra-Cascais

In Público (9/2/2011)
Por Luís Filipe Sebastião


«A Protecção Civil de Cascais realizou anteontem uma acção de fogo controlado na serra de Sintra, integrada na estratégia de defesa da floresta contra incêndios florestais. Mas a intervenção foi limitada pelo Instituto de Conservação da Natureza e Biodiversidade (ICNB) apenas a uma parcela de terreno, na sequência de críticas de moradores que alertaram para os riscos ambientais e paisagísticos da iniciativa.

Segundo conta o vereador da Protecção Civil, Pedro Mendonça (CDU), o uso de fogo controlado na encosta da Peninha, no perímetro do Parque Natural de Sintra-Cascais, abrangia seis parcelas de terreno florestal, num total de 19 hectares. A acção, analisada na Comissão Municipal de Defesa da Floresta, acabou por ser reduzida a quatro parcelas. Os 11 hectares de terreno foram preparados, incluindo a abertura de caminhos para facilitar o acesso de bombeiros, mas na sexta-feira o ICNB informou a autarquia que apenas autorizava o uso de fogo controlado numa das parcelas.

"Aceitámos a decisão porque se trata de uma área do parque natural. Mas lamentamos porque só prova que os representantes do ICNB na comissão não estão mandatados para assumir as suas decisões", comenta Pedro Mendonça, acrescentando que "fica comprometida a estratégia de defesa do património e da segurança das populações da serra de Sintra contra os fogos florestais". O autarca nota que a acção é realizada por especialistas e visa reduzir os riscos de incêndio, apontando a intervenção realizada, sem qualquer polémica, no ano passado em 4,8 ha.

Entre moradores da Malveira da Serra, a intervenção suscitou receios, uma vez que aquela zona perto do mar está exposta a mudanças bruscas de vento. Quem será responsável, perguntava-se numa mensagem na Internet, "pelos danos ambientais e estéticos", como ainda por outros, caso as chamas fiquem fora de controlo?

A associação ambientalista Quercus questionou, em Janeiro, se foi requerido parecer prévio para a operação. O ICNB confirmou a aprovação na comissão e que acompanhou os trabalhos de preparação das faixas para o "fogo técnico", não tendo sido detectado espécies botânicas de elevado risco como a Armeria pseudarmeria, uma flor endémica ameaçada. Medidas de salvaguarda foram adoptadas para carvalhos e pinheiros, cabendo à agência municipal Cascais Natura um estudo sobre os efeitos desta técnica na área protegida.»

3 comments:

Anonymous said...

Meu caro Paulo Ferrero:
Quando no Verão os incêndios ficarem fora de controlo e puserem em risco a segurança das populações e do seu património veremos se os críticos que agora tanto se preocupam com os "danos ambientais e estéticos"(!!!!)na floresta assumem a responsabilidade pelo impedimento ao trabalho de limpeza que se impõe fazer na encosta da Peninha e na envolvente da Malveira.
O ultimo grande incêndio nesta área foi causado pela negligência. O próximo será causado pela ingenuidade verde de quem sente a a natureza pelo que vê na televisão.
Tenho muuita peninha destes "criticos" e da floresta que eles ambicionam, mas não tenho paciência para tanto alarido e "fogo técnico"

João Fragoso

Carlos Portugal said...

Na verdade, mais de 90% dos incêndios florestais têm origem em fogo posto. Quando houve o grande incêndio que arrasou grande parte do Guincho-Abano e chegou a Murches, em 2000, familiares e amigos meus viram colocar cargas incendiárias que pouco depois deflagravam. As casas próximas ficaram «convenientemente» com as linhas telefónicas cortadas, só que os «pirotécnicos» não contavam com os telemóveis, e os bombeiros foram alertados. Mas é difícil combater incêndios provocados por cargas incendiárias colocadas em várias frentes.

Eu próprio vi - e fotografei com teleobjectiva - uma série de cargas incendiárias a deflagrarem à distância no incêndio do Verão passado na Serra da Estrela.

Não me digam que era «fogo técnico»!

MnelVP said...

Na Austrália esta técnica é muito utilizada, inclusive pelos aborígenes, para evitar fogos maiores causados por raios.

Concordo com a opinião que se deve é focar na prevenção criminal dos fogos, tanto em relação a quem inicia os incêndios como a quem beneficia com eles.