Monday, September 25, 2006

Como se chama aquele hotel do Monte Estoril?

Passou há dias na TV uma reportagem alucinante para um país que se quer europeu, surrealista para uma zona, Linha do Estoril, que se quer a melhor estância turística do país. A inspecção sanitária tinha encerrado por tempo indeteminado a cozinha de um hotel de 4****, sito no Monte do Estoril. Razões: baratas nos lava-loiças, chão alagado, mau isolamento dos fios eléctricos, canos estragados, roupas e sapatos dos empregados da cozinha convivendo alegremente com os alimentos, mobiliário terceiro-mundista, etc., etc.. A senhora inspectora brandia, e bem, um sem número de argumentos em defesa do fecho da cozinha, enumerando as leis, normas e regulamentos que estavam a ser infringidos, e o gravíssimo atentado que tal representava para os 200 hóspedes que o hotel tinha na altura (e quantos milhares não terão sido postos em perigo ao longo das últimas décadas?). Até aí, a reportagem era um duríssimo exemplo do cumprimento da lei, doa a quem doer. Mas o caricato acabou com a festa: o telespectador ficou a saber que aquela reportagem, tão sabiamente promovida, tinha sido de acordo especial com o proprietário do hotel, ou seja, a reportagem seria feita com a observância do total anonimato do hotel em causa. Suprema ignomínia! É certo que qualquer espectador atento, por exclusão de parte, depressa conclui qual seja o hotel, dada o escasso número de hotéis naquela zona do Monte, e, em particular, só existir um hotel que permite aquelas vistas para o Paredão, tal qual foram filmadas na reportagem. A ignominia está em que, mais do que sabermos quem são as empresas que devem ao fisco ou as escolas mais bem cotadas no «ranking» do ministério; interessava saber sim ao turista, às agências de viagem e outros operadores, ao espectador, ao consumidor, ao frequentador das suas instalações, ao povo; não só quais as hamburguerias que vendem minhoca por boi, ou quantos restaurantes chineses fecham mensalmente por razões de saúde pública, mas qual o hotel em questão. Mais, julgo que em país civilizado não seria só a cozinha daquele hotel a ser fechada, como todo o hotel, e o proprietário veria a licença de actividade ser-lhe retirada, e, em último caso, seria preso.

PF

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