Friday, September 08, 2006

Notas & Comentários: Símbolos

Em toda a terra, havia somente uma língua e empregavam-se as mesmas palavras. E os homens disseram:

«Vamos construir uma cidade e uma torre cuja extremidade atinja os céus. Assim, tornar-nos-emos famosos para evitar que nos dispersemos por toda a face da terra».

E o Senhor disse:

«Eles constituem apenas um povo e falam uma única língua. Se principiaram desta maneira, coisa nenhuma os impedirá, de futuro, de realizarem todos os seus projectos» (Génesis, 11).

E o Senhor confundiu-lhes as línguas e a torre de Babel nunca chegou a ser construída.

Vem, se calhar, desses bem remotos tempos a vontade de construir torres.

Em Macau, antes de sairmos, deixámos alto monumento à divindade da Harmonia universal. Em Coimbra, na margem esquerda do Mondego, o arquitecto do novo fórum coimbrão, decidiu torre para fazer pirraça à Torre da Universidade, símbolo da cidade. O Porto tem a Torre dos Clérigos; Lisboa, depois da Expo, a Torre Vasco da Gama (que, do lado poente, há a Torre de Belém…); Londres, a do Big Ben; Paris, a Eiffel; Nova Iorque, o Empire State Building (as gémeas já caíram); Oeiras, um inocente «gêiser»...

Cascais tem o vetusto farol da Guia, ex-libris da nossa costa; o farol de Santa Marta, a ser reabilitado e donde se avista soberbo panorama. Tinha (ou tem?) o Hotel Estoril-Sol, que vai ser (?) implodido, por estragar a paisagem e porque, pelas suas dimensões, não oferece rendibilidade. Não tinha, porém, um «ícone» dedicado não à sua história de vila com 650 anos, não à Senhora dos Navegantes, mas… à hotelaria! Alto, esguio, de vidro, com muitos quartos (estes, sim, altamente rendíveis…), e que, assim, plantado na marina, a fazer pirraça a Santa Marta, não agride o ambiente... Pronto!

E o Senhor disse:

«Se principiaram desta maneira, coisa nenhuma os impedirá, de futuro, de realizarem todos os seus projectos» (Génesis, 11).

J. d’E.

(In "Jornal da Costa do Sol", dia 17 de Agosto, p. 7)

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