Monday, December 12, 2011
A distribuição de energia e o Conto do Vigário
"O conto do Vigário" de Fernando Pessoa, foi-nos oferecido com outra pérola de Antero de Quental: "Causas da decadência dos povos peninsulares". Junto vem também "A terra que um homem precisa" de Tolstoi, e no mesmo livrinho do conto de Pessoa "O sem-amor ou o major sem a serotonina" de António Bento.
O banho de cultura em forma de livrinhos de bolso é a prenda de Natal que a Digal (que distribui gás aqui no burgo) oferece este ano aos seus consumidores, continuando o que já vai sendo uma amável tradição e cujos gastos, seguramente, serão justificados como investimentos em cultura na parte politicamente correcta do relambório que é usado como penacho nas Finanças, e que nós lhes oferecemos dentro do nosso deve e haver do IRC... Mas até aqui tudo bem. Aplaudo e agradeço com toda a sinceridade à Digal, e desejo que esta, da parte das Finanças receba o bom e devido retorno.
É pena que a Digal ainda precise de ultrapassar a fronteira do tempo onde já não se discutem as relações entre forma e substância. É que com uma visão (talvez) arcaica e inocente, a pobre "forma" da colecção dos livros da "biblioteca Digal", condena rapidamente demais este embrulho, ao lixo ou à reciclagem do papel.
E isso é pena também, porque, para além da visão interventiva dos (bons) autores e sua recomendável escrita, o presente traz uma outra mensagem a que o consumidor deveria dar um pouco mais de atenção, e que se percebe na cartinha que acompanha o presente e que é assinada pelo Sr. Presidente do Conselho de Administração: Artur Caracol.
Depois de contrapôr a algumas realidades do mercado de fornecimento de energia, a forma como a Digal actua, assume-se então que os livros estão identificados "com os tempos que correm" e segue justificando as escolhas: "Se Antero de Quental nos traça um diagnóstico multissecular do problema, Tolstoi aponta-nos, além das causas, as consequências. Já Fernando Pessoa, em "O Conto do Vigário"(o lettering a carregado é da Digal), descreve numas fulminantes sete páginas de que forma a avidez e o ardil criam crimes ou crises sem culpados, como a que vivemos, afinal o expediente dos que dela vivem [...]". A seguir apresenta-se o texto de António Bento como contendo a prescrição para a cura...
É evidente que a Digal se debate para se manter no mercado do fornecimento da energia, e este seu presente quer por-nos a pensar em como a livre concorrência "em benefício do consumidor" é em Portugal, um conto do vigário, um jogo de cartas marcadas, onde habilmente o crime da batota e os preços ao consumidor, se desculpam com "interpretações criativas de leis". Por isso, o tal "benefício dos consumidores" é uma quimera fantasiosa, mas que na verdade tem consequências muito significativas nos custos de produção das empresas, e na factura das economias familiares, tal como, aliás, tem sido referenciado por muitos economistas e pela salvífica "troika"... mas, para os campeões da forma da retórica, este "detalhe" é sempre embrulhado em má-forma e, para quem pode e manda, tem o destino do lixo e da trituradora de documentos. O que fica, faz notícia e domina o mercado, é quem não é inocente com a "forma" e dela usa e abusa para escamotear a verdadeira substância.
Nem tanto ao mar, nem tanto à terra: a simpática e útil Digal não deveria menosprezar os valores da "forma"para que a sua "substância" não seja desvalorizada.
Aproveito para retribuir à Digal os seus desejos de Santo Natal e Redentor Ano Novo, agradecendo o seu serviço e a prenda, que lerei com prazer.
O banho de cultura em forma de livrinhos de bolso é a prenda de Natal que a Digal (que distribui gás aqui no burgo) oferece este ano aos seus consumidores, continuando o que já vai sendo uma amável tradição e cujos gastos, seguramente, serão justificados como investimentos em cultura na parte politicamente correcta do relambório que é usado como penacho nas Finanças, e que nós lhes oferecemos dentro do nosso deve e haver do IRC... Mas até aqui tudo bem. Aplaudo e agradeço com toda a sinceridade à Digal, e desejo que esta, da parte das Finanças receba o bom e devido retorno.
É pena que a Digal ainda precise de ultrapassar a fronteira do tempo onde já não se discutem as relações entre forma e substância. É que com uma visão (talvez) arcaica e inocente, a pobre "forma" da colecção dos livros da "biblioteca Digal", condena rapidamente demais este embrulho, ao lixo ou à reciclagem do papel.
E isso é pena também, porque, para além da visão interventiva dos (bons) autores e sua recomendável escrita, o presente traz uma outra mensagem a que o consumidor deveria dar um pouco mais de atenção, e que se percebe na cartinha que acompanha o presente e que é assinada pelo Sr. Presidente do Conselho de Administração: Artur Caracol.
Depois de contrapôr a algumas realidades do mercado de fornecimento de energia, a forma como a Digal actua, assume-se então que os livros estão identificados "com os tempos que correm" e segue justificando as escolhas: "Se Antero de Quental nos traça um diagnóstico multissecular do problema, Tolstoi aponta-nos, além das causas, as consequências. Já Fernando Pessoa, em "O Conto do Vigário"(o lettering a carregado é da Digal), descreve numas fulminantes sete páginas de que forma a avidez e o ardil criam crimes ou crises sem culpados, como a que vivemos, afinal o expediente dos que dela vivem [...]". A seguir apresenta-se o texto de António Bento como contendo a prescrição para a cura...
É evidente que a Digal se debate para se manter no mercado do fornecimento da energia, e este seu presente quer por-nos a pensar em como a livre concorrência "em benefício do consumidor" é em Portugal, um conto do vigário, um jogo de cartas marcadas, onde habilmente o crime da batota e os preços ao consumidor, se desculpam com "interpretações criativas de leis". Por isso, o tal "benefício dos consumidores" é uma quimera fantasiosa, mas que na verdade tem consequências muito significativas nos custos de produção das empresas, e na factura das economias familiares, tal como, aliás, tem sido referenciado por muitos economistas e pela salvífica "troika"... mas, para os campeões da forma da retórica, este "detalhe" é sempre embrulhado em má-forma e, para quem pode e manda, tem o destino do lixo e da trituradora de documentos. O que fica, faz notícia e domina o mercado, é quem não é inocente com a "forma" e dela usa e abusa para escamotear a verdadeira substância.
Nem tanto ao mar, nem tanto à terra: a simpática e útil Digal não deveria menosprezar os valores da "forma"para que a sua "substância" não seja desvalorizada.
Aproveito para retribuir à Digal os seus desejos de Santo Natal e Redentor Ano Novo, agradecendo o seu serviço e a prenda, que lerei com prazer.
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