Em toda a terra, havia somente uma língua e empregavam-se as mesmas palavras. E os homens disseram:
«Vamos construir uma cidade e uma torre cuja extremidade atinja os céus. Assim, tornar-nos-emos famosos para evitar que nos dispersemos por toda a face da terra».
E o Senhor disse:
«Eles constituem apenas um povo e falam uma única língua. Se principiaram desta maneira, coisa nenhuma os impedirá, de futuro, de realizarem todos os seus projectos» (Génesis, 11).
E o Senhor confundiu-lhes as línguas e a torre de Babel nunca chegou a ser construída.
Vem, se calhar, desses bem remotos tempos a vontade de construir torres.
Em Macau, antes de sairmos, deixámos alto monumento à divindade da Harmonia universal. Em Coimbra, na margem esquerda do Mondego, o arquitecto do novo fórum coimbrão, decidiu torre para fazer pirraça à Torre da Universidade, símbolo da cidade. O Porto tem a Torre dos Clérigos; Lisboa, depois da Expo, a Torre Vasco da Gama (que, do lado poente, há a Torre de Belém…); Londres, a do Big Ben; Paris, a Eiffel; Nova Iorque, o Empire State Building (as gémeas já caíram); Oeiras, um inocente «gêiser»...
Cascais tem o vetusto farol da Guia, ex-libris da nossa costa; o farol de Santa Marta, a ser reabilitado e donde se avista soberbo panorama. Tinha (ou tem?) o Hotel Estoril-Sol, que vai ser (?) implodido, por estragar a paisagem e porque, pelas suas dimensões, não oferece rendibilidade. Não tinha, porém, um «ícone» dedicado não à sua história de vila com 650 anos, não à Senhora dos Navegantes, mas… à hotelaria! Alto, esguio, de vidro, com muitos quartos (estes, sim, altamente rendíveis…), e que, assim, plantado na marina, a fazer pirraça a Santa Marta, não agride o ambiente... Pronto!
E o Senhor disse:
«Se principiaram desta maneira, coisa nenhuma os impedirá, de futuro, de realizarem todos os seus projectos» (Génesis, 11).
J. d’E.
(
In "Jornal da Costa do Sol", dia 17 de Agosto, p. 7)