Monday, December 21, 2009

De ideia em ideia Cascais enche-se de empresas

In Público (21/12/2009)
Por Ana Rita Faria


«Implantes ósseos, aluguer de arte e óculos virtuais foram os últimos vencedores de um concurso que entra agora na quarta edição

Um novo ninho de empresas
A que inventou as fotocópias de graça e a que renasceu

Na parede estão pendurados os diplomas que marcam os últimos sete anos da vida de Cláudia Ranito. Há o da faculdade em Engenharia de Materiais, há o do estágio na área e há o da DNA Cascais, agência de fomento ao empreendedorismo. O projecto Medbone, para fabricar e vender implantes ósseos, venceu em 2008 o Concurso de Ideias de Negócio de Cascais (CINC) da DNA, que entrou agora na sua quarta edição. Com isso, saiu do papel e prepara-se para começar a vender os seus produtos já no início de 2010.

Desde que foi criada há três anos pela Câmara Municipal de Cascais, a DNA já apoiou o nascimento de 82 empresas e de 260 postos de trabalho, um número que poderá disparar para 450 nos próximos anos. O investimento feito até agora ultrapassa os dez milhões de euros e tem dado origem a empresas de diversas áreas, nomeadamente de serviços, e também a negócios ligados à saúde, como é o caso da Medbone.

"É como fazer um bolo, fazem-se primeiro os moldes, depois passa para uma estufa e finalmente vai ao forno", diz Cláudia Ranito, de 29 anos, para explicar o processo pelo qual passam as cerâmicas de fosfato de cálcio até se transformarem num implante que poderá substituir o osso, em caso, por exemplo, de fracturas ou reconstruções ósseas.

Alojada num complexo industrial perto da Estrada de Manique, a Medbone foi premiada pelas qualidades do seu implante, que se dissolve e adapta mais facilmente ao osso do que os outros produtos no mercado. Em Novembro, voltou a ganhar novo prémio, desta vez do BES, no valor de 60 mil euros.

A empresa aguarda agora a certificação do produto para começar a vender já em 2010 para hospitais e clínicas, sobretudo no estrangeiro (países árabes, da Europa, América do Sul e África). No primeiro ano espera facturar 50 mil euros. Mas o sucesso da Medbone não é um caso isolado.

Expansão à Trofa e Coimbra

As empresas que nasceram sob a asa da DNA, e que têm obrigatoriamente de fixar sede na zona de Cascais, apresentam uma taxa de sobrevivência de 95 por cento. Ou seja, das empresas apoiadas desde 2007, apenas cinco por cento acabaram por não sair do papel ou tiveram de fechar portas. Este ano, já abriram as candidaturas para a nova edição do CINC, um processo que irá decorrer até dia 23 de Abril de 2010.

Para o próximo ano, a agência de fomento de empreendedorismo tem também planos de expansão. "Além de consolidar as outras DNA que já foram criadas na Trofa, em Coimbra (DNA Saúde) e Terras de Sicó, estamos a ser contactados por mais regiões e municípios e, em breve, poderemos ter outras DNA", avançou ao PÚBLICO Carlos Carreiras, presidente da agência e vice-presidente da Câmara de Cascais.

Alugar obras de arte

O apoio aos projectos embrionários é feito a diferentes níveis. Além de uma incubadora de empresas para os albergar (ver caixa), a DNA Cascais ajuda os empreendedores a melhorar os seus planos de negócio e a procurar parceiros estratégicos. Paralelamente, disponibiliza um consultório jurídico e fiscal e um serviço de contabilidade e seguros para empresas. Mas o empurrão mais decisivo surge muitas vezes através dos apoios ao financiamento, que englobam o crédito, redes de investidores (conhecidos como business angels) e capital de risco, com a Inovcapital.

Foi graças ao investimento desta sociedade de capital de risco do Ministério da Economia e Inovação que o projecto Sota Art, vencedor ex aequo da última edição do CINC, acabou por sair do papel.

"Além do trabalho importante de acompanhamento do plano de negócios, a DNA fez uma ponte valiosíssima ao investidor - a Inovcapital - que se tornou o nosso accionista de referência", revela Marco Espinheira, de 37 anos, um dos promotores da empresa de consultoria e aluguer de obras de arte.

A funcionar desde Maio, a Sota Art resolveu trazer para Portugal um negócio que dá frutos no estrangeiro: permitir às empresas acesso a obras de artistas contemporâneos portugueses através de um sistema de aluguer. "Isso faz com que as empresas, em determinadas circunstâncias, promovam a sua imagem como associada à cultura e, ao mesmo tempo, ajudem a promover a arte contemporânea portuguesa", diz Marco Espinheira.

Além de ter organizado algumas exposições temporárias para agências de publicidade e escritórios de advogado, a Sota Art tem em mãos um projecto com o Metro de Lisboa. A partir de Janeiro, os títulos de transporte vão passar a exibir obras de arte portuguesas escolhidas pela empresa. A meta é chegar ao final do primeiro ano com 100 mil euros em caixa e quatro pessoas no quadro.

Óculos virtuais

Para a outra vencedora da 3.ª edição do CINC, a Rotacional, crescer também é a palavra de ordem, mas, para isso, há que conseguir primeiro um investidor. Com 2500 euros da vitória da DNA, e uma menção honrosa no Prémio de Empreendedorismo Start, a empresa aguarda apenas a entrada de capital fresco antes de duplicar para oito o número de funcionários. A facturação pode chegar a um milhão de euros, graças a um produto inovador - o Eye D.

"O projecto nasceu na Agência Espacial Europeia, que nos propôs criar um dispositivo que fosse capaz de sobrepor uma imagem virtual de alta definição ao mundo real", explica Miguel Martins, de 38 anos. O resultado é uma espécie de óculos que estão ligados a um computador, permitindo ao utilizador ver informação ao mesmo tempo que caminha ou desempenha outra actividade qualquer.

"As aplicações são diversas ao nível da indústria, desde o ramo automóvel, manutenção, logística, cuidados de saúde, protecção civil (acções de busca e salvamento), desporto e militar", revela Miguel Martins. Basta pensar num mecânico que tem de arranjar uma máquina e pode, ao mesmo tempo, ir vendo as instruções do seu funcionamento através destes óculos virtuais.

O negócio tem uma patente internacional registada e está a iniciar agora a comercialização, tendo já ordens de compra de empresas de montagem de equipamentos, soluções móveis e área médica.

O mercado de venda é o estrangeiro, mas a inovação continuará a vir de Cascais.»

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