Thursday, July 01, 2010

Esplanadas: não há fome que não dê em fartura

Recuando 20 anos, era ver o lisboeta acotovelar-se por um lugar ao Sol nas poucas esplanadas existentes no então espaço público. Poucas havia dignas efectivamente desse nome mas a da Mexicana era destino cativo de peregrinação das mais variadas clientelas, noite adentro, por vezes até depois do fecho e das cadeiras estarem presas a cadeado, não fosse algum dos “motards” clientes decidir levar Av. Roma acima a reboque uma qualquer delas. O resto era um deserto, tal a sede de quem sabia o que perdia e Lisboa pedia: havia mais uma ou outra a registar, mais por graça ao local onde estava montada (ex. Rossio, Belém) do que propriamente pelo serviço prestado.

Hoje, e ainda bem, tudo mudou, ainda que, infelizmente, a qualidade não tenha acompanhado o “boom” na quantidade. A requalificação das Docas de Alcântara foi o pontapé de saída (terminologia oportunista), a partir daí surgiram um sem-número de esplanadas um pouco por toda a cidade, sobretudo nos locais onde o trânsito automóvel foi condicionado (Baixa, etc.). Ultimamente, a CML apostou, também bem, na abertura massiva de quiosques e esplanadas em quase todos os jardins que ainda não os tinham e nos miradouros que nunca sonharam tê-los. Nuns casos foi uma decisão acertadíssima, noutros terá pecado por excesso, como no jardim “play station” em que se tornou o Campo Pequeno, hoje um espaço descaradamente inenarrável.

O mesmo se pode dizer do que proliferou ao longo da chamada Linha, em que o Paredão desde Oeiras a Cascais substituiu as esplanadas das até então monopolistas Arcadas do Estoril, hoje claramente subaproveitadas. Agora, bordejando os areais daquela costa há dezenas e dezenas, senão centenas, de esplanadas e pré-fabricados, umas mais ou menos enquadráveis que outras mas todas como resultado do encontro inevitável entre o aumento exponencial da procura pelo lazer junto ao mar e a capacidade “notável” de licenciamento pelas respectivas câmaras municipais. O Largo Camões, em Cascais, é exemplo maior dessa saturação do espaço público em prol do guarda-sol e do excesso de cadeiras.

Chegados aqui há que parar para pensar e … regulamentar. É impossível continuarmos a ter situações como as das alfacinhas Portas de Santo Antão e Rua dos Douradores, em que o peão é obrigado a ziguezaguear para não embater nas cadeiras, e em São Nicolau em que temos nem 1m livre junto aos edifícios para passar, correndo o risco de levar com uma sopa ou um jarro de sangria em cima. E essa espécie de mobiliário, de plástico “fruticolor” e de gosto duvidoso, que nos impinge publicidade, mais a tendinha sem jeito e o improvisado pára-vento. Mais o televisor ou o rádio da praxe, emitindo a decibéis insuportáveis! Haja coragem em regulamentar as esplanadas. Nem oito nem oitenta!




In Jornal de Notícias (1.7.2010)

3 comments:

Anonymous said...

A questão das esplanadas assume contornos de verdadeiro desrespeito pela cidade e pelos seus cidadãos. Num tempo marcado pelo ócio, divertimento e lazer o espaço público está sob pressão permanente de todos quantos acham que este é o palco priviligiado de todas as possibilidades de negócio bem sucedido e a custo irrisório. Aqui prevalece a luta pelo território e o fechar de olhos equivocado e interesseiro das autarquias que em nome da sacrosanta “animação urbana” mais não fazem que fechar olhos e amealhar receita.
O Largo Camões é o paradigma da insensibilidade dos nossos autarcas e do instinto predador dos comerciantes que nela montaram tenda, mesa e cadeira.A qualidade do serviço é péssima. O pessoal não tem qualquer qualificação. Os estabelecimentos são inomináveis, rotineiros e sem qualquer investimento ao nivel do conforto ou marca pessoal do seu proprietário. As cenas de pancadaria são frequentes. O espaço público, em multicolorido tropical, vai pelo mesmo caminho levando o pobre do Luís de Camões de televisão a tiracolo. Acresce o já internacionalmente afamado odor a frango de Cascais e a inusitada parafernália de papeleiras, candeeiros, floreiras, guarda ventos pérgolas, plásticos, flores de plástico que nos dão cabo do juizo e que dão a este largo a singularidade de repetir em Cascais a Quarteira algarvia.
Qual é a mais valia para os que aqui vivem? Nenhuma. E para o que nos visitam? Confirmam a nossa matriz chunga.
E os nossos autarcas? Ficam chocados com o que ali se passa? Ficam. E resolvem o problema? Não. Criam uma empresa municipal para tratar do assunto e deixam de passar por lá.
O mesmo se passa no Jardim Visconde da Luz com a sua graciosa esplanada elástica delimitada com carrinhos/floreira.

JOÃO FRAGOSO

Fernando Boaventura said...

Nem sempre de acordo, mas tem toda a razão quanto ao que comentou. Cascais parece a feira da Ladra. E que dizer dos "fogachos" feitos pelo Hotel Baía ás quintas, e também agora aos domingos?
Cumprimentos,

Anonymous said...

F. Boaventura
antes fosse a feira da Ladra que aí sempre existe genuinidade e a vantagem de ser só às terças e sábados.
"Fogachos" resolvem-se a extintor.
Agradeço e retribuo os cumprimentos,
João Fragoso