Tuesday, October 19, 2010

Dezenas de profissionais abandonam Hospital de Cascais



In Diário de Notícias (20/10/2010)
por ANA MAIA

«Incumprimento de horários e de pagamento de horas extras são algumas das queixas.


Falta de organização, horas a mais, saída dos profissionais mais experientes, promessas não cumpridas e horas extraordinárias que não são pagas. Estas são algumas das queixas que têm chegado aos sindicatos dos médicos e dos enfermeiros sobre o Hospital de Cascais, inaugurado em Fevereiro deste ano. O presidente do conselho de administração admite saídas, mas diz desconhecer queixas dos profissionais.

"Os horários feitos não estão de acordo com as regras estabelecidas para o sector privado, nem com as do público. São horários que ao final de quatro semanas deviam dar 140 horas, mas dão 200 ou 300 horas. O período de descanso ao final de seis dias é ilusão", denuncia ao DN Jorge Rebelo, do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP).

Esta é uma das situações que têm levado à saída de muitos dos enfermeiros mais antigos, que transitaram do antigo hospital para o novo, com gestão privada do grupo HPP. "Muitos dos enfermeiros mais antigos estão a pedir transferência para os centros de saúde e para outros locais sempre que possível. É preciso perceber que não se constroem equipas com enfermeiros que estão ainda numa fase embrionária."

Entre as queixas que chegam ao SEP, destaca-se a falta de pagamento de horas extraordinárias. "Começa a haver pessoas com horas infinitas realizadas e que estão por pagar. Mesmo os que estão a pedir em tempo de descanso não as recebem. Neste momento, a situação de Cascais é mais grave do que a de Braga, pois já há despedimentos. As urgências tinham auxiliares, e agora não há", adianta.

Entre os médicos, as queixas repetem-se. "Demitiram os directores dos serviços sem qualquer justificação. Os chefes de turno, em boa parte, também foram demitidos e substituídos por pessoas que ganham o dobro. As admissões não são feitas por concurso público, mas por convites directos", conta ao DN um médico que trabalha no Hospital de Cascais e que pediu para não ser identificado.

O clínico aponta o excesso de horas de trabalho como um dos grandes problemas daquela unidade. "Um horário de 35 horas inclui 24 horas de serviço de urgências. Isto significa que esgotam o horário semanal em três dias. Operam os doentes, e quem os assiste são os médicos da função pública", refere o clínico, defendendo que estão fora da lei.

"Fazem-se dez a 12 horas seguidas com bloco operatório e consultas. A administração recomendou aos médicos para não fazerem coisas muito complicadas porque não há dinheiro. Prometeram a alguns profissionais que este seria um hospital topo de gama e agora referem que os aparelhos são caros", lamenta.

José Miguel Boquinha, presidente do conselho de administração, admite a saída de enfermeiros, mas afirma desconhecer queixas. "Nunca recebemos nenhuma queixa. Temos assinado vários pedidos, nomeadamente enfermeiros, de saída para outros locais por razões que desconheço", refere o responsável ao DN.

Em relação aos horários, "estamos a fazer a distribuição, o que antes não havia, e é natural que haja pessoas que possam reagir menos bem", diz, garantindo que o hospital "tem cumprido escrupulosamente os horários do contrato de trabalho e da função pública e todas as horas extraordinárias são pagas". O impacto deste abandono de profissionais é desvalorizado; "não tem havido problemas em colmatar as saídas". »

1 comment:

Anonymous said...

Que estavam à espera? Que a CGD tivesse o bem comum como móbil neste negócio?