Tuesday, March 27, 2007

O novo Estoril-Sol, directamente de uma galáxia distante!

Como se não bastassem as sucessivas agressões de que tem sido alvo a Marginal ao longo das últimas décadas, designadamente no troço pertencente ao concelho de Cascais, designadamente as várias rotundas pato-bravescas, a anarquia junto à praia de Carcavelos, a «cidade A.Santo», na Parede; o esventramento do chalet da Condessa d'Edla, também na Parede; a proliferação de painéis publicitários de tudo e mais alguma coisa, o Hotel Eden, no Monte do Estoril; o Jumbo, o c.c. Titanix, ambos em Cascais, etc.; há agora uma ideia que alguns acham luminosa, outros tantos assinam de cruz sem saberem do que se trata, e muitos outros acham mal. Incluo-me nestes últimos. Demolir-se o Estoril-Sol com o argumento de que era um "mamarracho", pareceu-me uma ideia louvável, apesar de saber que irei ter saudades daquela pisicina, da decoração do hall de entrada e da pala exterior. Parceu-me louvável porque supus que quem de direito aproveitasse a ocasião para requalificar aquela parcela nobre à entrada da vila de Cascais. Nunca supus que a demolição do Estoril-Sol acarretasse negócio imobiliário com terrenos junto ao Casino do Estoril (em que se prevê mais estacionamento subterrâneo e mais empreendimentos). Nem que acarretasse transformação do público em privado. Muito menos que significasse a substituição de um "mamarracho" por algo "alienígena" como o projecto que o Arq. Byrne desenhou para o local e que agora nos querem meter à força pelos olhos adentro. Como a foto mostra, este projecto poderá ser excelente "pastiche" aos edifícios da Paris de La Défence, ou da margem sul do Tamisa, mas não dá para acreditar que seja o que iremos ter que conviver na nossa Cascais. Mais uma vez, o português não sabe copiar, porque não sabe contextualizar, nem tem memória. Pior, insiste em deixar para as gerações futuras o ónus de corrigir os erros do presente... tal como o Estoril-Sol o é agora. O pior, ainda, é ver-se que o Governo assina de cruz um plano de pormenor em regime simplificado, que servirá para contornar o PDM ... mas, curiosamente, um plano de pormenor que não autoriza este projecto em particular. Cascalenses, acordem!!

3 comments:

Anonymous said...

(...) se há reservas (de direitos ;) estas resultam, e sendo livre de expressar a minha opinião, não da divulgação das imagens (ou do facto das primeiras estarem desactualizadas) mas das insinuações despropositadas que se podem confirmar neste 'post', deselegantes, ou muito pouco abonatórias do autor do projecto, quase no limiar da difamação...
AB

Paulo Ferrero said...

Caro AB

É a sua opinião.

Nós por cá, inventar não inventamos nada. Em Cascais começámos por importar o "modelo" de São Paulo, para depois vermos os nossos arquitectos ficarem deslumbrados pelos edifícios espelhados, se possível, por aqueles metade antiga, metade moderna, ao bom jeito do inenarrável e sobejamente conhecido Héron Castilho. Achar-se-ão iluminados. Pouco interessa. O tempo o dirá.

De qq forma, o Estoril-Sol, gostasse-se ou não dele, a verdade é que tinha muitos pormenores interessantíssimos e valisosíssimos. Tal como este terá, certamente, talvez seja um edifício "inteligente" e "amigo do ambiente" já que da retina não será.

A coisa não é nova: Siza deu cabo do cotovelo da Antº Maria Cardoso, em Lisboa, e esterilizou o Chiado (é engraçado ver que no Prado as coisas fiam mais fino...). Manuel Taínha prestou-se ao desvario do bota-abaixo da casa de Garrett, e, como se não bastasse, projectou as coisas que hão-de despontar ao pé do Cais do Sodré., para gáudio de alguns amigos que se quedaram mudos e quedos. Arq. Emaus justifica o esventramento de um jardim centenário e vizinho de um monumento nacional (sendo portanto ilegal construir-se num raio de 100 m!), no Palacete Ribeiro da Cunha, no Príncipe Real, com a "excelência" do seu projecto de hotel com 33 quartos, estacionamento subterrâneo, passadiço em vidro, etc., etc. O grande Calatrava, por sinal, construiu uma maravilha chamada Gare do Oriente, mas, acontece, esqueceu-se dos ventos ... resultado: é inabitável.

O mesmo Arq. Gonçalo Byrne tem, aliás, um projecto que sendo simpático na sua premissa - o remate do Palácio da Ajuda - acarreta consigo coisas como a Via da Meia-Encosta, o abate da Alameda dos Pinheiros e a urbanização de zonas a sul do Palácio.

Será que ninguém sabe fazer obra sem estragar? Bolas, é tão simples.

Sinceramente, estou farto que dêem cabo dos sítios onde vivo. Do pouco que ainda resta neste país de betão armado, patos bravos, deslumbrados; reino do faz de conta.

E detesto que nos façam a todos de parvos!

Desculpe o desabafo.

Anonymous said...

Caro PF,
«nós por cá» não seremos (hoje ou no passado!) muito diferentes 'deles, por lá' a não ser(!?) talvez, por essa atávica mania de, tirando o período dos Descobrimentos ou dos jogos da selecção, tendermos a desvalorizar tudo o que é 'nosso'...a louvar tudo o que vem de fora, quantas vezes cometendo graves injustiças, numa espécie de auto-flagelação!

Esse 'traço de personalidade', nota-se também no que toca aos valores patrimoniais, em que o Estoril-Sol serve de exemplo (de uma certa arquitectura modernista, chamado Estilo Internacional - e por isso mesmo idêntica, sem esse facto ser pejorativo, pelo contrário, pois eram cânones estéticos próprios de uma época, à de muitos outros, de S.Paulo a Biarritz).

Obviamente, mesmo os grandes mestres, os chamados arquitectos de nomeada, principalmente se responsáveis por intervenções difíceis e polémicas (que já o são, mesmo antes da fase de proposta de soluções) podem errar e tornarem-se a face visível de resultados menos bons, mas, de qq forma, o q há a fazer é criticar com objectividade, credibilizando a defesa de soluções alternativas, sem nunca cair na via fácil da insinuação...da maledicência.

Também me parece que se deve reconhecer uma 'resistência natural 'do público, relativamente à aceitação de propostas inovadoras e, até um certo grau, admitir que quem as propõe, tem 'provas dadas' na sua área profissional, um prestígio que não deve tornar-se no motivo do debate.

É que, até a tão apreciada Baixa Pombalina pode ser considerada paradigmática desse fenómeno, enquanto obra que foi executada a pensar no futuro, e por isso mesmo odiada, perfeitamente desfasada da sociedade e realidade que a viu construir!

Tomara nós que as atrocidades que se vêem por aí - e que são muitas, e quase sempre 'silenciosas', fossem efectivamente resultado do trabalho, da responsabilidade de arquitectos!? vedetas ou recém licenciados...

Daí, pensar que o alvo deste tipo de críticas deveria ser mais ponderado, no sentido de uma cultura de maior exigência e de uma percepção mais objectiva das agressões (em termos da sua dimensão territorial) à paisagem urbana.

AB