Tuesday, July 29, 2008

Obras na Quinta da Carreira, no Estoril, vão ter acompanhamento arqueológico

In Público (29/7/2008)
Clara Viana

«Nos arredores do bairro de São João do Estoril existem vestígios romanos e de outras épocas mais remotas que a Câmara de Cascais promete vir a salvaguardar


Para acautelar a preservação de eventuais vestígios de outras eras na Quinta da Carreira, em São João do Estoril, todos os trabalhos que impliquem deslocações de terras naquela zona deverão ter acompanhamento arqueológico, garantiu o director do Departamento de Cultura da Câmara de Cascais, António Carvalho.
Esta foi uma das medidas decididas pela autarquia na sequência de um repto lançado por um dirigente da Associação de Moradores da Quinta da Carreira (AMQC) para que fosse investigada a possibilidade de o lugar ter uma história romana e preservados os seus eventuais vestígios.
Há pouco mais de um ano que o antigo presidente da associação, José Casquilho, investigador em ecologia da paisagem, decidiu procurar o que poderia haver de verdadeiro numa informação que apontava para marcas romanas no bairro onde também está situada a Escola Secundária de São João do Estoril. A iniciativa, já noticiada pelo PÚBLICO em Abril passado, prossegue e está contada no blogue da AMQC (amqcarreira.blogspot.com).
Apesar de os arqueólogos que estudaram a quinta não confirmarem essa possibilidade, a câmara optou por acautelá-la, até porque nas proximidades existem vestígios que apontam muito para trás, como explicou António Carvalho: "A existência na envolvente de alguns sítios arqueológicos (a norte a necrópole pré-histórica de Alapraia e os achados epigráficos romanos do Casal de Santa Teresinha, Casal das Grutas e Quinta da Boavista; a sul o achado isolado de um artefacto datado do Paleolítico nas arribas do forte de Santo António) leva à necessidade de ter em conta medidas de arqueologia preventiva, nomeadamente a permanência a tempo integral de um arqueólogo na obra enquanto decorrerem mobilizações de terreno".
Depois de uma visita ao local do presidente da autarquia, António Capucho, e de uma reunião, realizada no final de Maio, com representantes da AMQC, o Departamento de Cultura da Câmarade Cascais elaborou "uma informação detalhada com o inventário dos bens patrimoniais, bem como as medidas de salvaguarda" do património que, na Quinta da Carreira, sobreviveu à construção da urbanização ali existente, cuja primeira fase foi edificada em meados do século passado.
O inventário da câmara, bem como as medidas para a "diminuição de impactos sobre o património arqueológico", destina-se a integrar o Plano de Pormenor para a área. A elaboração desse plano foi aprovada em 2005, mas, segundo a autarquia, os trabalhos encontram-se ainda numa fase "muito embrionária".
Em todo o caso, o plano de pormenor deverá contemplar a implantação de um ecoparque e de uma nova via rodoviária junto à ribeira de Bicesse - uma das áreas que figuram entre os lugares a preservar -, que finalize a ligação entre a Auto-Estrada Lisboa-Cascais e a Estrada Marginal. O documento consagrará também novas construções com uma área total de 19.500 metros quadrados.

a As informações escritas mais remotas que se conhecem sobre a Quinta da Carreira datam do século XIX e dão conta da sua aquisição pelo comerciante Marques Leal, que a transformou numa próspera exploração agrícola, com uma grande casa e de onde saía um "magnífico vinho".
No local subsistem ainda um tanque de rega (estava condenado no projecto aprovado pelo anterior presidente da Câmara e que foi anulado pela actual gestão), junto ao qual existe um dragoeiro. Este já se encontra classificado como sendo de "interesse público".
Tanque e dragoeiro figuram no inventário agora feito pela autarquia, onde se incluem também, entre outros, como elementos a preservar e valorizar na Quinta da Carreira um poço e uma nora actualmente em ruínas, um bosque de pinheiros mansos e um alinhamento de oliveiras, estes últimos já identificados pela Direcção-Geral dos Recursos Florestais como passíveis de classificação de Interesse Público, informou a autarquia.
Todos estes elementos estão na zona para onde se encontra prevista parte da nova construção. As oliveiras referidas situam-se ao longo do que poderá ter sido a "carreira", que terá dado nome ao lugar. C.V.»

1 comment:

Anonymous said...

LOBO VILLA 2-8-08

Se salvaguardar o património a autarquia não faz mais q o seu dever,mas como fica afinal a Qta da Carreira,com os 19.500 m2 de novas contruções?