Tuesday, July 13, 2010

Nove mil pessoas do Estoril sem médico de família forçadas a mudar de centro de saúde


In Público (13/7/2010)
Por Cláudia Sobral

«Associação de Moradores da Quinta da Carreira, em São João do Estoril, não baixa os braços e queixa-se à ministra da Saúde

Passaram-se anos sem que Maria José Afonso fosse a uma consulta no antigo Centro de Saúde do Estoril. Entretanto construiu-se um novo, em São João. Transferiram-se médicos e utentes. E eliminaram-se das listas os nomes dos que não faziam uso do serviço. Quando tentou marcar uma consulta, já no novo centro, disseram-lhe que como não tinha médico de família só poderia ser atendida em Alcabideche. A Associação de Moradores da Quinta da Carreira (AMQC), em São João do Estoril, está revoltada e já se dirigiu à ministra da Saúde, Ana Jorge, a pedir que inverta esta situação que afecta 9000 utentes.

Mais de um terço dos cerca de 23.700 residentes do Estoril (dados do último Censos) estão sem médicos de família. E, por essa razão, terão de deslocar-se ao Centro de Saúde de Alcabideche, outra freguesia do concelho, mais longe das estações de comboios. As excepções são grávidas ou crianças, que podem ser atendidas no Estoril, garante a directora executiva do Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) de Cascais, Helena Baptista da Costa.

A petição enviada à ministra reuniu 850 assinaturas e o nome que a encabeça é o do próprio presidente da Junta de Freguesia do Estoril, Luciano Gonçalves Mourão, que não concorda com a "transferência" destes utentes. Helena Baptista Costa diz não ter havido nenhuma transferência. "O país tem sérias dificuldades na atribuição de médicos de família. Encontrámos uma solução através de uma empresa prestadora de serviços e, por questões de gestão, tivemos de a centralizar", diz.

A localização é um dos maiores problemas apontados pelos moradores da Quinta da Carreira. "Os moradores abdicaram de um espaço privilegiado, com vista para o mar, para a construção de um centro de Saúde a que agora não têm direito", reclama o presidente da direcção da AMQC.

Já a directora executiva do ACES de Cascais explica que o local é precisamente um dos principais motivos para a colocação desses serviços em Alcabideche, porque "o maior número de utentes sem médico pertence" a essa freguesia. Para além disso, refere, há uma maior proximidade do Hospital de Cascais. O problema, explica o presidente da direcção da AMQC, é que em Alcabideche "nem sequer há comboios".

Helena Baptista da Costa aponta ainda outros dois motivos que justificam a decisão: melhor gestão de recursos e maior disponibilidade de gabinetes em Alcabideche. Para Carlos Guimarães, isso não é justificação. "O último andar do Centro de Saúde do Estoril, aquele com melhores vistas para o mar, está inteiramente ocupado com serviços administrativos", afirma. E faz questão de subir até ao terceiro andar para o provar. "Claro que eles estão muito melhor aqui do que em Alcabideche." No Centro de Saúde de Alcabideche, a maioria dos utentes que ontem aguardavam pela sua consulta eram daquela freguesia.

Contactado pelo PÚBLICO, o Ministério da Saúde não fez comentários até ao fecho desta edição.

A AMQC aguarda uma resposta das entidades a quem enviou a petição, como deputados, provedor de Justiça e até mesmo o Presidente da República. Para já, a posição do ACES de Cascais mantém-se irredutível. Os utentes de São João sem médico de família, salvo as devidas excepções, deverão dirigir-se a Alcabideche. Uns fazem-no, outros preferem recorrer ao atendimento em clínicas e hospitais privados.»

4 comments:

Anonymous said...

Esperemos que um abaixo assinado feito em 15 dias tenha os seus frutos, revogação da decisão absurda de transferir as consultas para alcabideche.
Ou então vai muito mal esta democracia.
Carlos Guimarães
(AMQC)

Anonymous said...

Lobo Villa :
Diz o anterior que "vai mal esta democracia" como se ela ainda resistisse ás meias-medidas Socáticas,aos Simplexes,aos Praces...
É escusado tentar entender estas nuvens burocráticas que,no final,pretendem é minar o SNS ;o qual por má-gestão e corrupção está a caminho da falência propositada ,a favor do privado ! (visto que os médicos já emigraram para lá...) .
Em nome da verdadeira crise privada, o governo inventa uma "crise" falsa no sector público da Saúde...a ver se se safa da verdadeira crise que criou e se saca mais ao contribuinte.
O "socialismo"-neo-liberal vigente é assim que actua,na saúde e no resto:diz que a crise que ele próprio criou, é culpa do contribuinte...
Parabéns á AMQC pela denúncia de mais esta aldrabice!

Anonymous said...

Lamentável manterem o satus dos médicos, ao não abrir mais vagas para medicina.
Os que têm dinheiro vão estudar para Salamanca.
Ao menos deixem vir os médicos de Cuba, Brazil e de Espanha.

Anonymous said...

Só porque, felizmente, não vou ao Centro de saúde já não tenho médico de família? Isto já não é um País... é uma anedota! Mas não é só neste Centro, é em todo o País.
Farto disto!