Thursday, December 09, 2010

Era uma vez o Miramar

No tempo em que ainda havia «charme» mas não se falava tanto nele, e quando se falava nunca era sem as devidas aspas, havia no Monte Estoril um tal de Hotel Miramar, erigido naquela traça típica da arquitectura de veraneio revivalista, muito à imagem do edifício que o precedeu, aliás, e que no virar do século XIX passou a ser o Grande Casino Internacional do Monte Estoril; um dos vários motivos pelos quais a zona virou destino turístico de eleição. Fechado o casino, passou a hotel em 1930, primeiro Royal e depois Miramar, este com capacidade a rondar pelos 40 quartos. Até que, já em visível declínio e numa bela noite de 1975, ardeu. Ainda me lembro do espectáculo das labaredas e do aparato na Marginal.

Mas também me lembro das belas ruínas que durante 30 anos se mantiveram de pé (imagens em http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?p=24429122), contra ventos e tempestades, talvez na secreta esperança de um dia serem a base para uma reconstrução cuidada, até porque, afinal de contas, mesmo ruínas encontravam-se inventariadas no catálogo municipal anexo ao PDM. Contudo, durante todo esse tempo ninguém de direito mexeu um dedo que fosse para que o Miramar fosse reconstruído. Até ao ano passado, em que mexeram mas apenas para demolir o que restava. Sem apelo nem agravo. E apenas com o intuito de darem seguimento apressado a um tal de Plano de Pormenor de Reestruturação e Urbanização do Terreno do Hotel Miramar, feito à medida de apenas um lote e que, traduzido em miúdos, consubstanciará a construção de raiz de um “hotel de charme” com 100-150 quartos (contra-senso ridículo?), segundo a última versão do dito cujo e a partir de um projecto de conhecido arquitecto.

Abdico de esmiuçar algumas das várias curiosidades que se foram verificando ao longo de todo este processo, sobretudo nos últimos anos [ex. o “balizamento” do Miramar enquanto peça do complicado xadrez que respeitou ao novel Estoril-Sol; a opção “plano de pormenor”, quando do que se trata é de apenas um lote - e a haver Plano, ele devia ser para todo o Monte -, a “garantia” de que se tentaria a reconstrução, primeiro, e se manteriam as fachadas …já demolidas por não terem valor (arquitecto dixit) e não (?) serem passíveis de recuperação, a não consulta aos cascalenses sobre o que entendiam por bem para o Miramar, antes de se avançar com qualquer “plano”; a ausência de Avaliação Ambiental da construção de um hotel com 3x a capacidade do que lá estava, num total de construção de 4.000m2, quando há evidente impacto paisagístico, estético, volumétrico e de tráfego na rede viária local, constituída até agora por ruas sinuosas, estreitas e pacatas], mas não posso abdicar da minha revolta por estarem constantemente a mangar connosco. Basta de hipocrisia!




In Jornal de Notícias (9.12.2010)

1 comment:

Anonymous said...

LOBO VILLA
A vergonhosa destruição do Monte-Estoril irá repartir-se Históricamente entre Judas,Capucho e agora também o insanável Arq. Gonçalo Byrne-autor deste projecto-o campeão especulador/destruidor do Concelho de Cascais,á revelia e á ausência duma "Ordem dos Arquitectos" decente/actuante.
Com efeito Byrne tornou-se na ovelha-negra da classe dos Arquitectos,após ter destruído Coimbra(Baixa),tornou-se no inimigo nº1 de Cascais,destruíu o Parque Palmela(Estoril-Sol-Residence) a Cidadela de Cascais( com Hotel que ocupou/desventrou a muralha histórica),agora com este hotel no Monte-Estoril,destruindo totalmente o jardim do lote/quarteirão, sabendo da farsa do "Plano de Pormenor",que é apenas para aquele quarteirão e não para o Monte-Estoril todo,que sendo ainda uma jóia,devia ser salvaguardado como Património Internacional que é.