Thursday, November 04, 2010

Hospital "mais exigente do país" abriu há oito meses e já lhe faltam camas


In Público (4/11/2010)
Por Luís Filipe Sebastião e Marisa Soares

«Nasceu como um exemplo de qualidade, mas poucos meses depois de abrir já tinha doentes em macas nos corredores. Gestão privada alega que a procura disparou, a ARS estranha as queixas

Urgências e internamentos

As declarações do director clínico do Hospital de Cascais Dr. José de Almeida, João Varandas Fernandes, sobre a falta de camas surpreenderam o Ministério da Saúde. A Administração Regional de Saúde (ARS) de Lisboa e Vale do Tejo "estranha" as queixas do hospital, até porque está marcada "há duas semanas" uma reunião para hoje, em que o assunto será discutido.

A administração daquela unidade fez ontem o balanço de oito meses de actividade e admitiu ter doentes em macas nos corredores do edifício inaugurado em Fevereiro. "Estamos no limite e qualquer alteração ao actual estado de coisas só o Estado é que pode decidir", disse ontem João Varandas Fernandes. O director clínico ressalva que a permanência de macas nos corredores é uma "situação extraordinária", que ocorre desde o Verão e que se agravou na primeira quinzena de Outubro. Porém, justifica essas situações com o "aumento da procura" nas urgências, na ordem dos 28,4 por cento, e com o alargamento da área de influência. A unidade gerida pela HPP Cascais, do grupo Caixa Geral de Depósitos, cobre o concelho de Cascais e presta cuidados na área materno-infantil a mais oito freguesias do concelho de Sintra.

José Miguel Boquinhas, presidente da administração da HPP Cascais, disse ao PÚBLICO que "o número de camas na medicina interna foi reduzido", segundo o estabelecido no contrato com o Estado. De acordo com dados da administração, o novo hospital tem 285 camas disponíveis, mais 47 do que as existentes na antiga unidade, de gestão exclusivamente pública, que funcionava no centro da vila.

Na opinião do mesmo responsável, a "excessiva" procura, que não estava prevista nos estudos em que se baseou o contrato de parceria público-privada, deve-se à "qualidade do hospital e dos cuidados de saúde prestados" e também ao facto de os utentes que antes recorriam a outras unidades terem regressado a Cascais.


Esgotado três meses depois

A falta de capacidade de internamento do Hospital de Cascais foi comunicada três meses após a inauguração à ARS. Este organismo revelou ao PÚBLICO que a HPP Cascais propôs, em Maio, a transformação de seis quartos individuais em quartos duplos e o recurso a outras unidades de internamento. Estas soluções foram aceites pela ARS, desde que a transferência de doentes não representasse encargos para o Estado. A administração do hospital propôs ainda a utilização do serviço de observações para internamento, mas a hipótese foi rejeitada. Ainda assim, a ARS manifestou disponibilidade "para avaliar melhor esta situação" e pediu mais elementos de análise que, segundo diz, na altura não lhe foram enviados.

A falta de camas não é o único problema. Desde que abriu, o HPP Cascais já viu sair sete médicos e 29 enfermeiros. Fonte do Sindicato dos Enfermeiros apresenta como principais queixas a sobrecarga de trabalho, de horários e horas extras que não são pagas, factores contestados pela administração. João Varandas Fernades contrapõe que, em termos de recursos humanos, a unidade dispõe de 1066 profissionais, quando, em 2009, no antigo hospital havia apenas 913.

Fonte da Câmara de Cascais garantiu, por seu lado, que "não chegou à câmara qualquer queixa sobre o hospital, nem da administração ou direcção clínica, nem dos utentes".»

2 comments:

J.N.Barbosa said...

Ninguém pergunta quem foi que elaborou o caderno de encargos, ou estabeleceu os requisitos operacionais do novo hospital?
Quem errou as previsões?

António Morgado said...

Uma coisa que esta notícia deixa-me é consternado. O director e o presidente da administração da HPP Cascais devem pensar que as pessoas são parvas. Têm recursos de dois hospitais concentrados num só, o Hospital Condes de Castro Guimarães e o antigo Hospital José de Almeida em Carcavelos. Contudo só referem os efectivos e o número de camas do primeiro.