“Verificamos que os portugueses não têm uma particular devoção nem interesse pelo que é antigo. É considerado apenas como velho e, como tal, descartável, disponível para ser substituído. Em muitos casos, a começar pelo poder político, continuando pelo poder financeiro e acabando na mais modesta das pessoas, não se interiorizou a noção de que a preservação do construído é um acto de respeito pelo património, mas é essencialmente um acto de cultura e de respeito pela nossa história (...). Vemos com muita frequência pessoas, mesmo as que possuem uma boa cultura erudita, entenderem como sinal de progresso a destruição de elementos antigos e que individualmente, ou em conjunto, são valiosos para a compreensão do que foi a nossa história e o nosso trajecto ao longo dos séculos. Essas construções são encaradas como obstáculos ao que se entende como progresso. Depois entram as questões económicas, mas que têm servido para mascarar uma incapacidade de perceber que o assunto é essencialmente de natureza cultural”.
“O povo português possui uma cultura popular muito forte, muito diferenciada e muito rica, mas uma cultura erudita fraca. A daquela que consideramos a elite intelectual e económica é muito frágil. Se as elites não entendem isto [a necessidade de defender o que herdámos], é muito difícil transmitir esta ideia com entusiasmo para levar as pessoas a preservar o que é interessante (...). Afirmar que a reabilitação é muito cara é uma falsa argumentação, embora uma reabilitação profunda possa conduzir a custos directos superiores aos da construção nova. Mas isto é para quem faz apenas contas nesse registo. Normalmente não se englobam os custos indirectos. No acto de reabilitar fazem-se contas de ‘merceeiro’. A reabilitação até tem uma componente ambiental muito forte. E quanto é que vale preservar a memória?”
Excertos de entrevista dada pelo Eng.º João Appleton à revista Eng & Obras, em Novembro de 2005. As suas palavras estão longe de ter perdido actualidade.
1 comment:
A cultura popular e as tradições,portuguesas,são desprezadas pelos governos e pelas autarquias.Por duas razões: 1-porque enquanto tivermos um governo que dá primazia ao "economismo" em vez das pessoas,ninguém gosta deste país,nem das suas tradições; 2-enquanto a corrupção generalizada tornar mais "rentável" a construção do "novo" do que conservar o "velho",a destruição do património nacional é inelutável.(Será que ainda restam dúvidas sobre isto?)
19-2-08 Lobo Villa
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