Exmos. Senhores
Presidente da Câmara Municipal de Cascais,
Director do IGESPAR,
Director-Regional de Cultura,
C.c. AMC
No seguimento das obras levadas a cabo nas fachadas do edifício dos antigos Paços do Concelho da Vila de Cascais, Imóvel de Interesse Público (Decreto n.º 67/97, DR, 1.ª série-B, n.º 301 de 31 dezembro 1997), somos a constatar que as mesmas, não cumpriram, a nosso ver, as mais elementares noções e técnicas de restauro e limpeza de edifícios classificados, já que é visível a olho nú que as cantarias foram descaracterizadas, apresentando os cunhais e os emolduramentoes dos vãos áreas preenchidas a argamassas indevidas, a nosso ver, conferindo assim ao edifício um aspecto em nada consentâneo com o seu estatuto (imagens em anexo).
Somos, por isso, a solicitar à Câmara Municipal de Cascais e aos Serviços que tutelam a salvaguarda dos bens culturais classificados, um esclarecimento sobre este assunto, i.e.,:
- Foi esta autorizada e acompanhada pela tutela? (CMC, IGESPAR/DRC-LVT)
- Se foi, como é que foi possível que uma obra, à partida sem problemas, tenha tido este resultado?
- Que medidas serão tomadas para repor a legalidade da obra e/ou a dignidade deste edifício classificado?
Com os melhores cumprimentos
Diogo Pacheco de Amorim, Manuel Valadas Preto, António Branco Almeida, Maria João Pinto, Fernando Boaventura e António Santos Cristóvão
Fotos: PC e FB
2 comments:
Taparam isto durante o
"XI Congresso Internacional de Reabilitação do Património Arquitectónico e Edificado" ??
Um trabalho bem simples de realizar e, aposto que anda gente especializada na conservação de pedra no desemprego !?
Para vosso consolo e, apesar de anos e anos de "congressos", este tipo de resultados é visível por toda a Europa....
Parole, parole....
Muito me apraz saber que o alerta que aqui deixei deu origem à reclamação sobre as obras de restauro (!!!) realizadas nos antigos Paços do Concelho.
O problema deste caso, e de tantos outros, reside na total desregulação existente no sector das empreitadas de obras públicas onde o critério de adjudicação é sempre o do preço mais baixo. Devido à situação económica do país os valores apresentados pelas empresas de construção destinam-se apenas a ganhar as obras a qualquer preço, chegando a ser adjudicados trabalhos 50% abaixo do preço base posto a concurso. Com o irrealismo dos valores actualmente apresentados nunca será possível executar as obras em boas condições e de acordo com as regras da arte que a cada caso se impõe. Deficiente interpretação dos objectivos da obra, más práticas de construção, desconhecimento técnico, má coordenação dos trabalhos, pessoal sem qualquer qualificação profissional, acidentes de trabalho e falta de condições de segurança e higiene acontecem todos os dias e disso vai dando eco a comunicação social. No entanto, a administração pública nada faz porque no fundo é ela a principal interessada neste mercado de aparências em que se adjudica barato sem equacionar encargos futuros derivados de deficiências de construção e de caríssimos trabalhos de manutenção e reabilitação. As obras servem para ganhar eleições e quem vier a seguir que pague a conta.
Sabedores de que nada lhes acontece, os empreiteiros andam nisto felizes como pássaros nas cerejas. Vêm para as obras a olhar de viés para os cadernos de encargos postos a concurso e a contar com a má gestão dos dinheiros públicos e a complacência da fiscalização. A qualidade dos projectos é outro campeonato…
No caso em apreço não sei qual a habilitação do empreiteiro e os critérios em que se baseou a sua escolha. O tipo de intervenção em causa exigiria uma resposta de elevado nível e consentânea com o valor patrimonial do edifício. Infelizmente o resultado está a vista e deita por terra as intenções do Presidente da Câmara quando afirma ver na recuperação do património uma das saídas para a crise em que vivemos.
Pode ser que sim. Mas nunca baseado neste exemplo.
Estivesse eu no seu lugar o primeiro passo que daria na reabilitação do património físico da autarquia consistia na reciclagem das centenas de arquitectos, engenheiros e fiscais que lhe enxameiam os corredores sem qualquer préstimo.
A prova de que este é um desafio urgente está mesmo à frente da janela do seu gabinete.
Entretanto, ao (ilustre) edifício já alcunharam de “Malhadinhas”.
Para vergonha dele. E nossa.
JFRAGOSO
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