Monday, December 18, 2006

Cascais quer turismo de qualidade

In Diário de Notícias
| II | ESPECIAL CIDADES | 4.ª FEIRA | 13.DEZEMBRO.2006 |

"Num concelho assimétrico vivem 183 mil pessoas, muito ricas, ricas e pobres. A aposta para o futuro recai no turismo. Daqui a três anos haverá mais cinco hotéis.

Os 183 573 habitantes contabilizadosemCascais pelo Censos de 2001 dividem-se entre muito ricos, ricos e pobres. No meio, há a classe média, mas, na sua maioria, oriunda de um “estrato superior” e “bem colocada na vida”. A realidade do município atravessa os extremos: da Quinta da Marinha aos bairros do Fim do Mundo, no Estoril, ou às Marianas, em Carcavelos. O actual presidente de câmara, o social-democrata António Capucho, confirma: “É um concelho com assimetrias assinaláveis. De gente muito rica ou muito pobre.”

Mas Cascais está agora de olhos postos no turismo de qualidade, como o caminho para o futuro e para o desenvolvimento. O plano estratégico está traçado e, se tudo correr bem, daqui a três anos haverá mais cinco hotéis de luxo na zona, construídos de raiz ou em espaços recuperados, quintas e palacetes. Os amantes do golfe ou os congressistas são o público-alvo. Os optimistas estimam que o crescimento nos próximos anos supere os resultados atingidos em 2005, em que se registou um aumento de 4% na indústria turística, 80% dos visitantes eram de nacionalidade estrangeira. Por outro lado, nem o futuro conseguirá livrar o concelho das marcas da betonização–
o boom da construção, incrementado na década de 90 no tempo do autarca socialista José Luís Judas, que atingiu todo o território, incluindo zonas protegidas, como o Parque do Abano. Esta tendência reforçou aindamais o peso do município como zona-dormitório de Lisboa e agravou as falhas já existentes a nível de infra-estruturas. “Cascais não tinha capacidade para aguentar tanta construção. Conseguimos travar alguns projectos, através da detecção de irregularidades ou da negociação com promotores, que aceitaram diminuir o número de fogos, mas não tem sido fácil”, justifica ao DN António Capucho.

A norte de Lisboa e com uma área de 97,4km2, Cascais marca o fim da linha do Estoril, encaixado entre o estuário do Tejo em Oeiras e o interior da serra de Sintra. Dados camarários revelam que o fluxo de tráfego ultrapassa diariamente as 70 mil viaturas, a maioria na direcção de Lisboa e pela A5. A mobilidade é um problema, mas “quem aqui se fixa e pretende andar de carro é porque já se acomodou às filas de trânsito para a capital”, defende o presidente, acrescentando: “Quem adere aos transportes públicos, como o comboio, num instante chega ao local de trabalho e tem a vantagem de regressar a uma zona de paisagens fabulosas.”

A saúde é outra preocupação. Em 2004, Cascais tinha 113 mil utentes do Serviço Nacional de Saúde,um único hospital, dois centros de saúde e nove extensões, quase todos com equipamentos degradados. Agora, há três novos centros (Estoril, Alcabideche e São Domingos de Rana), o que o presidente diz representar “um salto qualitativo brutal”. Em 2007, espera-se que avance também a construção do novo hospital, aguardado há muito. Apesar da imagem de marca – a de concelho dos mais abastados–, o índice de poder de compra per capita não é dos mais elevados. À frente de Cascais aparecem o de Lisboa, Oeiras e Porto. Da história recente do concelho fazem ainda parte 247 bairros clandestinos, muitos criados nos anos 60 e 70. Alguns foram legalizados como zonas urbanas à espera de requalificação, outros permanecem na sua forma original, como o Bairro do Fim do Mundo ou das Marianas, em vias de extinção, mas que ainda alberga quatro famílias.

De acordo com o último Censos disponível (o de 2001), Cascais tem só 22% da população residente com grau académico superior. A taxa de analfabetismo situa-se nos 4,5%, similar à de municípios vizinhos. O parque escolar integra 193 escolas, públicas e privadas, e quase 32 mil alunos. A população cresceu a um ritmo moderado, cerca de 8,3% entre 1981 e 2001, e uma boa parte (79%) é empregada no sector terciário. Comparativamente com outros vizinhos, Cascais não é hoje um pólo empresarial, contabilizando apenas 10.373 empresas, com um volume de negócios que ultrapassa os quatro milhões de euros.

Ana Mafalda Inácio
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PF

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