Ao invés de um copo, partiria muito provavelmente toda a sua loiça, porque o que aí vem - essa “obra de ruptura” de ainda mais duvidosa inserção no lugar que substituirá o velho Estoril-Sol - é, a par de mais um atentado ao delicado sistema de vistas de Cascais, mais um atentado a uma outra coisa: a arquitectura de veraneio de finais de Oitocentos, princípios de Novecentos que, apesar de todas as perdas e adulterações que tem sofrido, poderia ainda ser a sua marca distintiva. Na envolvente próxima da “obra de ruptura” que aí vem estão “só” duas das mais importantes peças desse legado: o Palacete Palmela e a casa de D. Maria Pia, que por uma daquelas ironias do destino se chamou originalmente Chalet da Vista Longa. Mais "obras de ruptura"? Às vezes, quando a paciência começa a esgotar-se, partir a loiça é mesmo o último recurso...
Créditos da primeira imagem: Inventário do Património Arquitectónico da extinta Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (DGEMN)
4 comments:
Tem toda a razão. Aliás, se foi para isto que demoliram o Estoril-Sol (decisão que, ingenuamente, me pareceu acertada), mais valera tê-lo lá deixado. Já agora: mesmo ao lado está a casa do velho tycoon Alfredo da Silva, projecto de Tertuliano Soares. Cumprimentos.
...e que não venha a ser necessário (por demasiadas vezes) ter de "partir a loiça" para que se procurem condições para preservar consistentemente, essas edificações que são os chalets, que, com as que lhes sucederam sob diversas formas, são uma das marcas qualificadas e significativas do tipo de ocupação que foi caracterizando este território.
Caros RAA e Pedro Partidário,
Obrigada pelos vossos comentários. De facto, é um mistério recorrente em Portugal que ninguém com poder decisório - desde quem encomenda, passando por quem desenha até quem viabiliza - se aperceba do impacto de projectos desta natureza em zonas que, apesar de tudo, ainda têm alguma coisa do "espírito do lugar". O "filme", de facto, é sempre o mesmo...
(...) a origem desta problemática (aqui levantada e muito bem, com um certo sentido literário, senão jornalístico ;) é, e como já alertado há uns 'posts' atrás (a nova unidade temporal) a aparente ausência de um plano que enquadre efectivamente estes valores patrimoniais com as novas intervenções (que não podem continuar a ser casuísticas e isoladas) que vão surgindo... Quantas mais vezes será necessário dizer que não é pelo somatório (ainda que de boas fontes) de projectos de arquitectura que se faz urbanismo... uma pergunta: o Sr. Agache (ou os promotores que o convidaram) deixou algum edifício da sua autoria... eu creio que não, mas deixou a 'estrutura', a 'ideia' para o lugar, capaz de 'concertar', de enquadrar o que se viria a construir depois... até hoje? esta mesma crítica é, foi confirmada no polo local da Trienal... onde estão as intervenções de conjunto, qual a visão/visões de cidade (ou lugar) em discussão? esta 'ponte', só pode ser 'atravessada' c/ uma outra abordagem disciplinar, onde a arquitectura é (sem descurar do seu papel) apenas uma das questões em análise (uf, fiquei exausto, vou redimir-me de tal deriva e voltar rapidamente ao estirador ;)
AB
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