Monday, April 16, 2007

Cascais desaparecida #10: Arcadas do Estoril


Dir-me-ão que estou enganado, que as Arcadas continuam lá. Certo, estão lá, mas só no nome. Há muito que a loja de brinquedos do lado "de lá" se foi, e com ela aquela cave fabulosamente recheada, bem como a discoteca completíssima, e as simpáticas senhoras da livraria/papelaria. Do lado de cá, foi-se o grande cão amarelo, de nome Leão, da loja de ferragens que por ali havia, paredes meias com o café Biquini, dos Sr. Manel, António e Lima.

Com ele, o café, foram-se os bifes à casa, as madalenas embaladas em saquinho de plástico, mais as pastilhas Pirata e os amendoins saídos de máquina com globo de vidro. Foram-se as corridas de caricas, por sobre os muros que cercavam as esplanadas do Biquini, do Deck e do Iate. Foram-se as excursões pelos corredores do antigo hotel, no primeiro piso. Foram-se também, já mais velho, as noites no Deck, onde até chegou a haver música. Acima de tudo, foram-se as pessoas.

Restam muitas e boas recordações, a começar pela espectacular fuga dos espectadores hippies corridos a bastão e cão, de um espectáculo que decorria antes do 25 de Abril no pavilhão de hóquei dos Salesianos, e que se refugiaram nas Arcadas, como podiam. Resta, de facto, a fabulosa magnólia (?), como que assombrada e a chorar por mais. Resta o mau gosto que persiste em tudo aquilo que ali há hoje, inexplicavelmente ... Credo, com a Junta de Turismo ali mesmo ao lado, como é possível que aquilo continue assim?
Foto: Esalvide

15 comments:

Anonymous said...

(...) dir-se-ia que a fotografia combina perfeitamente com o rol de memórias, muitas delas ainda vivas, atestando essa outra função dos espaços, que é a de servirem de suporte ao imaginário colectivo...

- receio a resposta sobre o equivalente actual (em vivência, em popularidade) destas Arcadas!

AB

Paulo Ferrero said...

o equivalente actual?

As arcadas deixaram de ser hotel e passaram a apartamentos, além de terem subido um andar e descaracterizado a traça dos edifícios.

No lado de lá: um banco ocupou lj brinquedos/discoteca/perfumaria. A livraria/papelaria mantém-se mas mudou radicalmente de visual, disposição e atendimento. Subsistem alguns resistentes. Há uma agência imobiliária. E o decrépito Pinto's ganhou direito a marquise, e a ter antena no lado de cá.

No lado de cá: o Biquini metamorfoseou-se em Pinto's 2. As cadeiras das esplanadas passaram ao regime "publicitário". Os passeios estão atolhados de carros. Há mais balcão de banco, e ... mais vale passar em frente.

Pedro said...

Pois! ...a marquise do Pinto's!...lamentável.
E, meu caro Paulo Ferrero... vi que passou em frente! Cansado do desconsolo (também meu!)... nem registou aquele inaceitável e absolutamente injustificável "barraco" da bomba de gasolina da Galp à frente das esplanadas!! Quem come nas esplanadas, ao invés de poder fruir das vistas para os jardins e as arcadas do outro lado, "come" (e cheira), pela frente com aquele quiosque de alumínio "mimoso", degradado e degradante... e à Galp é capaz de nem faltar dinheiro para (se tem mesmo que ser - duvido muito!) pôr ali qualquer coisa mais adequada a um sítio turístico qualificadíssimo!... melhores tempos virão!... será? Eu - cínico - duvido muito.

Paulo Ferrero said...

Não me lembre esse posto de gasolina, caro Pedro Partidário ... acontece que ele está lá desde que eu me lembro das Arcadas. Aliás, tenho uma das piores recordações desse posto ... conto, um dia fui mordido por um cãozito castanho, chamado Táxi, que era do empregado da gasolineira, qdo lhe queria dar uma festa na cabeça. Chorei que me fartei. Meu Pai fez um escarcéu, pegando na vassoura que ali estava e «varrendo» o pequeno cão, e ameaçando o homem. He, he, he, ainda me lembro. Mas o cão por lá ficou - até era bem engraçado o cão -, muitos anos. O posto era mais pequeno e menos «espalhafatoso».

Anonymous said...

(...) se as Arcadas definem um conjunto, ou melhor, se são parte daquele que é talvez o espaço público (anos 30?)mais emblemático da zona, com uma localização única (a dois passos do Tamariz) custa a crer que não exista um programa de qualificação, um regulamento específico para compatibilizar todas essas ocupações e/ou alterações!

Aliás, um pouco como se fez em LX (embora tivesse originado uma vaga de 'arcadas' de marquises ;)

AB

Pedro said...

...mas alguém pensa em planear alguma coisa? Mas porque é que nos (re)conhecemos como povo do improviso? (e até gostamos de preservar as nossas tradições!... mesmo a tradição do improviso!... que isto ou bem que se é conservador ou então é-se outra coisa!).
...e para além disso não-planear dá mais jeito ("guito"). Planeando-se sabe-se com mais precisão onde se gasta e o que se ganha... não se planeando sempre se pode "aceitar" qualquer coisa que até "dê" mais, a alguém que apareça com "outras ideias"!!!

Pedro said...

...e qualificar?... o que é isso de qualificar?
Com a falta de referências e a delapidação paulatina de umas raras coisas mais qualificadas, neste nosso burgo-grande, hoje já é difícil que haja um vasto entendimento do que é qualificar... para muito boa gente do nosso "povo", qualificar é pôr outros azulejos na fachada da vivenda... e umas colunas de betão pintado a suportar a varanda (mesmo que as colunas enquadrem a janela da casa de banho... mas isso não interessa porque com as colunas, o acrescento faz a casa parecer um palacete clássico).

...melhores tempos virão?

J.N.Barbosa said...

Desactivaram a bomba de gasolina mas não a desmontam. Nem as bilhas de gás levaram. Os carros invadiram o espaço e agora os peões não podem circular porque está tudo atravancado.São carros,arbustos,anúncios, bilhas de gás a bloquear a passagem de quem desce a avenida!

Anonymous said...

(...) é caso para se defender a 'privatização' da gestão deste espaço público...a quem? perguntar-se-á, certamente, entregando-a a quem se interessa e tem meios, isto é, ao Casino, que numa fácil dedução, terá sido o principal responsável pela requalificação da área verde da alameda que, como toda a gente se deve lembrar, esteve durante largos anos num estado de semi-abandono, numa espécie de tributo aos modelos de crescimento espontâneo da vegetação!

Pedro said...

"é caso para se defender a 'privatização' da gestão deste espaço público"...pois é! Quando chegamos a este tipo de conclusão... Então a administração (pública) local servirá só (?) para verificar que "outros" investem, promovem, mantêm... e (claro!) depois, o público fica refém da iniciativa privada pagadora que - naturalmente - fará com alguma arbitrariedade, a seu bel-prazer.
Isto lembra-me os dois "novos" casos: Estoril-Sol e Hotel Atlântico... o presidente da câmara sobre isto diz o que é verdade: que "a Autarquia não é responsável pelas opções da sociedade hoteleira [...]" (resposta relacionada com o Estoril-Sol mas que se imagina fácil para qualquer outra situação entregue à iniciativa privada - é o histórico e confortável "lavo daí as..." ).
É claro que a proposta acima, seria a requalificação de uma àrea pública que - imagino - ficaria (???) sempre sob alçada da Administração Local mas, vai dar em qualquer coisa parecida com aquela ideia milagrosa de entregar (por concurso) as coisas públicas a entidades-milagre que são financiadoras-gestoras-animadoras-projectistas-construtoras.
...mas então que se encurte a "máquina-pessoal" da Administração Pública. Com os privados a "tratar" do assunto, bem podemos dispensar uns quantos funcionários!

Anonymous said...

(...) a essa verborreia respondo desta forma: os resultados estão aí -a alameda é um ex.º - à vista de todos: o Estado não tem mãos, nem meios, nem motivação para as funções que hoje se lhe exigem!

Quando o colega (e muito boa gente)se debruçar sobre o Polis XXI, sobre a sua filosofia de intervenção, vai começar a entender-me ;)

Deixem ao Estado, à Administração, a função reguladora, de fiscalização e arbitragem, mas também de estímulo, porque esta tarefa, em si mesma, já é...gigantesca!

AB

Paulo Ferrero said...

Falou-se aqui da privatização das Arcadas? Bom, tudo aquilo é privado, creio.

Qto ao jardim defronte ao Casino, nunca ele foi tão pouco jardim, passo a explicar:

As alamedas viraram pistas alcatroadas. Os canteiros deixaram de ter flores. Os roseirais, foram-se, Os recantos dos bancos, idem. A cerca à estátua de Fausto de Figueiredo é uma cerca digna de curral. O tanque defronte ao casino é isso mesmo, um tanque. O lettering gigante "CASINO" assuta o visitante mais incauto. Os candeeiros das entradas monumentais estão mais "verdes" do que se fossem do Sporting; e os pobres dos peixinhos dos lagos em socalcos, completamente ceguinhos com aquelas águas tão turvas.

Quem devia tomar conta daquilo tudo era a CMC. Mas essa é a minha opinião, claro.

Pedro said...

A evidência é a evidência!... a única coisa que lamento é que os espaços públicos, sendo territórios colectivo (públicos e DO Público) não sejam - pelo menos nas situações mais exemplares - "tratados" pelo próprio Público.
A incapacidade do "Estado" (prefiro dizer: Administração Pública) não pode ser sempre justificada. A Administração Pública é o Público. Somos "nós" portanto... incapazes? (A crítica recai sobre nós!).
A falência da capacidade de as Administrações Públicas Locais, tratarem bem os seus espaços (públicos) revela mais falta de cuidado (e desprezo) pelo espaço público, do que de uma real incapacidade de administração... Talvez se trate, porventura, de uma outra ordem de prioridades. Mas, se o Público não consegue ou não pensa em cuidar do que é seu...

Repito, acho que (por Princípio - "Princípios"(!): valores éticos pragmáticamente e demasiadamente esquecidos) pelo menos, alguns sítios públicos mais significativos, deviam ser alvo do esforço e do cuidado do Público, seu "dono" e Habitante. Como exemplo! Por Princípio!

Os (necessários e que falam por si) Programas Polis, resultam em mais outra evidência... vindos de onde vêm, e de quem vêm: os nossos governadores "sábios" e muito hábeis a gerir (os seus) interesses... temos assitido às (muitas) tristes e envergonhantes revelações recentes que ligam Universidades, Administração Pública, interesses privados, pessoais, e empresariais e etc.? Temos, não temos? ...e estejamos (comentemos) à vontade: Estas revelações não trazem nada de novo e, se não estivessem interesseiramente, apontadas para uma única "criatura" desse grupo (por acaso relevante no caso dos Pólis), poderíamos ver a larga e abrangente (transpartidária) rede tecida, cujo único propósito é: elaborar discursos que diluem a importância de nos regermos por Princípios, para (evidentemente) justificar as opções que inequívocamente favorecem...
Falta de Princípios(!!) meu caro! Tudo falta de Princípios!... numa velha sociedade de opereta onde (vejo) o próprio sector privado, não demonstra estar CÍVICAMENTE preparado (nem ter uma genuína vontade) para ajudar este "Estado" a tomar conta da coisa pública para "bem" do Público.

ABraços a todos!! Que se reforce a Cidadania! ;)

Anonymous said...

(...) a propriedade (nas Arcadas) é privada, obviamente, mas os espaços fronteiros, esses, são pelo menos de uso público...

Sobre a 'baralhação' que se segue, apenas direi que, se essa coisa do 'público somos nós', em termos de cidadania, de contributo pessoal ou de responsabilidade individual, até funciona mas, falando de gestão, ou de administração, a coisa já soa de forma diferente, e é tão evidente que dispensa mais comentários!

Sobre a restante prosa-prosaica, nada como investigar a fundo o assunto e resistir a uma corriqueira-crónica (anunciada ;) das conspirações-conluios, porque isso não é mais do que areia (aqui conotada com a falta de bom senso ;) e sabemos que essa, e apesar dos recentes avanços do mar, há e continuará a haver em abundância!

AB

Pedro said...

Estimado AB,
(sobre cidadania e 'baralhações')
...cada um de nós tem as experiências de vida que a vida lhe permite viver e, por isso, acredita no que lhe é dado por si próprio a acreditar. Mas, entre algumas várias experiências, uma (muito reveladora) fez com que à MINHA mesa de almoço, diversos "vasos" - uns com responsabilidade na Administração Pública, outros com interesses privados - juntos, pusessem em funcionamento, o sistema "comunicante" entre si para transferir "nutrientes" de intersses particulares entre uns e outros. (conhecemos os sistemas de vasos comunicantes, não conhecemos?... podem chegar a ser complexos e, portanto, confundirem-se com 'baralhação' que aliás, é uma táctica usada pelos interessados).
ILEGALIDADES?: não.
CONFLITOS DE INTERESSES?: Não. ...MAS noutras culturas cívicas, SIM!
RESULTADOS: "coisas" de que EU NÃO gosto!
Talvez seja só eu a não gostar, mas quero exercer a minha liberdade de não gostar.

E quero exercer o meu direito de, também, não me deslumbrar com anúncios de Programas... A necessidade dos "anúncios" é do foro da Propaganda, já os Programas em si, são estruturações indispensáveis de (boas) intenções mas, o Inferno... Prefiro - e gosto - de ver os bons resultados dos processos conduzidos pelos Programas.
E prefiro perguntar porquê (como exemplo) a reabilitação do Centro Histórico de Guimarães parece ter resultado bem e, porquê o Plano de Reabilitação de outros "centros", com outro tipo de "interesses" envolvidos não resultou?
Porquê uns (ou umas intervenções) dos Pólis, nalguns sítios avançaram (quase sempre lentamente e titubeantemente) e noutros não... será porque não foram devidamente consideradas as diferenças entre protagonistas e (mais importante) níveis assimétricos de interesses (urbanos) reais ?
Será que não foram os sítios com interesses mais periféricos que avançaram mais? (sendo que isto é um fenómeno "natural")... mas outros de "maior" interesse nacional "marcam passo" e atrasam-se até à vergonha?.

No caso particular, significativo e significante da "praça" frente ao Casino (e estacionamento atrás do Casino), preferiria que "como exemplo" e "por princípio" fosse a CMC (que os cidadãos elegem) a assumir a direcção, transformação e manutenção do sítio. Públicamente.
...porventura, gerindo (o melhor possível) as contribuições financeiras a que os privados estão obrigados ou com os quais há - ou far-se-ão - protocolos.

Quanto a outras intervenções (muitas e necessárias)... estou de acordo que a iniciativa privada, pode e deve, ser chamada a maior participação (mas continuo a desconfiar do nível de desenvolvimento do contexto cívico em que vivemos).