Thursday, February 08, 2007

Abertura de El Corte Inglés assusta pequeno comércio

In Jornal de Notícias (8/2/2007)
César Santos e Fátima Mariano

«El Corte Inglés está a desenvolver estudos de viabilidade para a instalação de uma nova loja em terrenos na zona norte de Carcavelos

A possível construção de um armazém El Corte Inglés em Cascais não é bem acolhida pelos pequenos comerciantes e por alguns autarcas do concelho, que temem o impacto negativo ao nível do comércio tradicional e das acessibilidades rodoviárias.

A Câmara Municipal, por seu lado, acolhe de bom grado esta intenção da cadeia espanhola. Ao JN, o presidente da câmara, António Capucho, confirma as conversações e adianta que os armazéns terão que ser instalados "em local apropriado para o efeito", "fora dos centros urbanos e com boas acessibilidades". Embora diga que "não há previsão de prazos para a concretização deste projecto" e não adiante quais as localizações em estudo, o autarca diz que está "disponível para analisar um projecto que venha a ser apresentado", dando a entender que Cascais é opção quase certa para a instalação da nova loja.

Ao que o JN apurou, o El Corte Inglés estará já a desenvolver estudos de viabilidade para terrenos localizados na zona Norte de Carcavelos, a Sul da A5, embora se tenha recusado a confirmar esta informação. "O El Corte Inglés não faz qualquer comentário sobre este assunto", disse, ao JN, Susana Santos, porta-voz da cadeia espanhola.

A Associação Comercial do Concelho é taxativa quanto a este assunto. "Não queremos mais espaços comerciais no concelho", disse o presidente, Rui Barbosa, acrescentando que os armazéns "iriam criar ainda mais dificuldades às lojas de rua". No entanto, entre as localizações já faladas - Fundição de Oeiras (ler caixa) ou Carcavelos -, Rui Barbosa prefere esta última, devido "às dificuldades de acesso".

São também estas dificuldades que levam Manuel do Carmo Mendes, presidente da Junta de Freguesia de São Domingos de Rana, a estar contra a instalação dos armazéns na zona Norte de Carcavelos. "Numa primeira análise, não somos favoráveis, pela dimensão do projecto e pelo impacto que teria na qualidade de vida dos munícipes, agravando ainda mais os problemas de mobilidade", frisou Manuel do Carmo Mendes, adiantando que já pediu esclarecimentos à Câmara e à empresa Estradas de Portugal sobre possíveis pedidos de alteração da rede viária, mas ambas as entidades negaram.

O JN tentou ouvir também a presidente da Junta de Freguesia de Carcavelos, Zilda Costa, sobre esta matéria, mas, apesar das várias tentativas feitas ao longo da última semana, não foi possível obter comentários

8 comments:

Pedro said...

O El Corte Inglés, particularmente, não concorre com o comércio tradicional. Concorre com as papelarias, e perfumarias, imagino. De resto, quer ao nível do vestuário, acessórios e dos produtos de primeira necessidade (pão, legumes, carne, peixe, etc..), já toda a gente percebeu que aquilo é um "tudo-nada" mais caro que toda a restante concorrência...
E o comércio tradicional está já moribundo. Tem é de ter medo de si próprio. Tem de se transformar. Em especial na forma como vendem (como se apresentam) e nos produtos que vendem. Por outro lado, políticamente, as autarquias têm de pensar muito bem se querem ter ruas desertas nos centros e bairros habitacionais por causa da ausência de um comércio interessante e, se continuam a querer mais edifícios monstruosos como - se a tradição se cumprir - será o "nosso" Corte Inglés.
O caso do centro de Cascais, deixa-me curioso. Haverá planos de transformação do comércio? E, se os há... se Cascais é um centro turístico significativo, não se percebe como é que se revitaliza o tecido comercial com lojas-âncora tipo Zara, Massimo Dutti e etc. Um espanhol quando vem a Portugal, não quer entrar nas mesmas lojas que entra todos os dias em Espanha!!! ...e mesmo que estas lojas estejam a atrair clientes para a zona, não se vê o comércio português a transformar-se. As lojas são feíssimas (só ultrapassadas pelas dos chineses) e os produtos... Salvam-se os restaurantes. Mas estes têm a concorrência, de facto, dos da "fast-food".
O consumidor tem de ser tratado. Está doente das papilas gustativas, da sensibilidade e do "gosto" em geral!

A meu ver, para a transformação, é necessário em primeiro lugar repensar (e dominar) o mercado imobiliário do comércio. O "negócio" dos tespasses (com valores impensáveis) e a inflação artificialmente induzida pelas imobiliárias, está a paralisar a transformação do comércio local... Os preços que se praticam (claro!), só são acessíveis às tais multinacionais das lojas-âncora que, em muitos casos (não sei se é o caso de Cascais), ainda são apoiadas financeiramente para atrair a sua instalação.
As restantes que conseguem instalar-se, têm de ter uma rentabilidade tal para pagar o espaço, que, acabando por ter de refletir nos preços dos produtos o custo do espaço, vêm-se estes a atingir valores absurdos (e, evidentemente, não concorrênciais com os das grandes superfícies).
No meu bairro, os espaços comerciais abrem e fecham em meses, sem se conseguirem fixar.
As ruas sem comércio, são tristes, desertas e inseguras.

André Bernardes said...

»António Capucho, confirma as conversações e adianta que os armazéns terão que ser instalados "em local apropriado para o efeito", "fora dos centros urbanos e com boas acessibilidades".»

Com estes pressupostos (camarários! conquanto explicáveis, defensáveis, etc) iremos ter mais um Cascais Shopping, mais uma solução funcionalista, anti-urbanística, provavelmente desgarrada e autista!

Porque é que não se olha para o exº do...primeiro, da cadeia espanhola, o da Av António Augusto Aguiar, que vem confirmar que é possível inserir um equipamento deste tipo no tecido urbano, tornando-o num sucesso comercial e vivencial, catalizando um sem número de mais valias, a começar pela revitalização do comércio de rua? é que as dinâmicas assim geradas resolvem esse outro problemas dos preços, havendo afluência de clientes...

Porque é que em vez de amarrá-lo ao nó da A5 (Carcavelos - S.D.de Rana), mais uma vez alimentando, enaltecendo a lógica do automóvel, não se transfere a localização deste equipamento (que é mais em S.D.de Rana do que Carcavelos ;) para...Carcavelos (!?) por exº, para o local da Feira de Carcavelos, que é um terreiro, ali mesmo em frente da estação da CP... mudando de vez de paradigma urbano, de mobilidade, encarando a manifestação do interesse privado como a oportunidade que faltava para servir de 'alavanca' à mudança que urge, de requalificação daquele espaço espectacular, único e irrepetível (se fosse em Oeiras, acredito que há muito que estaria aproveitado) que se estende da praia de Carcavelos até à linha férrea?

Modéstia à parte, parece-me que ainda se vai a tempo de se evitar outro erro rotundo de planeamento, ou, como contraponto, de se agarrar esta oportunidade (de qualificação, vitalização ;) proporcionada pela vinda do El Corte Inglès...

Pedro said...

...de acordo MAS: O exemplo do de Lisboa (ou dos de Madrid e mesmo de Barcelona) foi realizado com uma arquitectura de "bater na avó"!!! Essa má tradição não pode continuar!

Um bom exemplo da perspectiva do André Bernardes, pode ser visto em Barcelona no Centro comercial l'illa na Av. Diagonal. Está lá desde os anos '90. É um excelente exemplo de modernidade, integração e qualidade de construção... e é gerador de vida urbana. (http://www.lilla.com/es/home.php)

André Bernardes said...

ou...mais em de(s)acordo ;) pois prefiro sempre o debate à militante promoção "da candura dos netos" ;) neste caso, de um qualquer modelo pessoal!?

Daí entender ser importante o princípio de distanciarmo-nos doque supostamente seria a nossa, proposta de arquitectura! e avaliar com isenção o que é importante que, neste caso, reside na opção da inserção urbana, porventura resultante de outra bem mais antiga (!?) de um incógnito planeador, ou de uma negociação de permutas (!?)porque sei que o ilustre colega Teotónio Pereira, tem para ali um projecto equivalente e...muito antes de se falar em centros comerciais, ou desta peça de nuestros hermanos!

Mas, e porque acabei de visitar o site (agradeço a dica ;) aproveito para registar as boas práticas do outro lado (o que é 'didáctico', pois...repito, não está em causa pronunciar-me sobre o edifício!):
«La magnitud del espacio ocupado y el impacto urbano que supuso la construcción del conjunto, hizo que se realizara una consulta internacional de ideas. La resolución del proyecto debía unificar las necesidades municipales respecto a la ordenación viaria, la creación de espacios libres y equipamientos para el barrio de Les Corts, con el conjunto de construcciones privadas previstas para uso comercial, hotelero o de oficinas.»
sendo, já agora, de divulgar os autores, os 'nomes sonantes', conhecidos inter-pares:
«los arquitectos Rafael Moneo y Manuel de Solà-Morales»

Recentrando a questão no essencial e por ser evidente a necessidade de uma análise mais sistémica e integrada dos problemas urbanos, substituindo certos paradigmas, tornados dogmas, ultrapassados (!?), retribuo a 'dica' com esta outra do relatório sobre "Cidades Sustentáveis", destacando a parte que se refere aos impactes ocultos (ou externalidades -) nos centros tradicionais da...localização deste tipo equipamentos, embora alguns até se adequem à tipologia inventada -nem todos!, insistindo numa lógica funcionalista e, inevitavelmente, no automóvel como meio preponderante de mobilidade!

É que se pode estar, apesar de bem intencionado...a agravar aquilo que se pretende defender!

Com a particularidade de...existir (em mais nobre e bem servida localização) uma outra alternativa!

...haja profissionais (da decisão ao projecto) capazes de a realizar ;)

e, também, informação, interesse e interlocutores ;) no debate!?

http://ec.europa.eu/environment/urban/pdf/rport-en.pdf
Chapter 7
Impact of out-of-town developments
(pág.210 do PDF)

André Bernardes said...

fantástico, fantástico, foi esta apresentação (ou a informação de 'como chegar', a partir das várias entradas possíveis...de Barcelona, que continua na frente, a ser exemplar ;)

Porque será?

http://www.lilla.com/introflash_Rebaixes.htm

Pedro said...

Meu caro André Bernardes, não sei se entendi bem a sua primeira frase sobre a "candura dos netos" e a promoção de "modelos pessoais"... e também desconheço os projectos que existem (e para onde existem) de Teotónio Pereira.

Só tenho um interesse que por acaso - parece-me - é igual ao seu: participar no debate.

O meu "campeonato" arquitectónico está a milhas de distância do dos "avôs" e "pais" e "tios" e "padrinhos" da arquitectura e, fique sabendo: gosto muito do meu campeonato.

À parte este aspecto: concordo imenso consigo.

André Bernardes said...

(...) é que na força das metáforas reside também a sua perigosidade, chamada ambiguidade!?

O que disse, refere-se a uma primeira (?) proposta-projecto, com o mesmo tipo de uso e para o local do El Corte Inglès, em que, se a memória não me trai, veio do Atelier Teotónio Pereira (porventura em colaboração de outras ilustres figuras...?)

O interesse reside, estava, na contextualização de uma decisão, aparentemente acertada (atendendo à necessidade de revitalizar os centros urbanos) e (dizem os especialistas) inovadora!

António said...

Eu acho que a norte de Carcavelos, junto à A5 com acessos melhorados e bastante estacionamento, será o local certo.

Porquanto evita-se canalizar trânsito e milhares de pessoas para o centro de Carcavelos, condicionando ainda mais os acessos à marginal e parando de vez com a mobilidade de Carcavelos.

Por outro lado, aproveita-se o facto para reabilitar a entrada do concelho de Cascais, para quem vem na A5 procedente de Lisboa, depois de passar pelo Concelho de Oeiras, verdadeiramente de nível Europeu, deparamo-nos com a entrada num Concelho parado no tempo, com aspecto de 3º mundo.

Cascais merece que a sua imagem seja reabilitada, merece ter projectos modernos que sejam uma visão do futuro, sem medos nem nostalgias dum passado glorioso que na prática nunca existiu.

Venha o "El Corte Inglês", venha um projecto em grande, Cascais merece sair da letargia em que mergulhou. Siga atrás do Concelho de Oeiras, sem receio, Sr. Presidente da Câmara, mas siga.