Thursday, July 05, 2007

Praia ali? Moita, carrasco!


Confesso que não andava no Paredão ao fim-de-semana há algum tempo, demasiado talvez, mas tão cedo lá voltarei, a esses dias, muito menos de Verão, passo a explicar:

O «meu» Paredão está agora reduzido a dois segmentos: Praia das Moitas (exclusive)-Piscina do Tamariz (exclusive) e Tamariz (exclusive)-Azarujinha, o resto é demasiadamente alérgico para me recordar seja do que for. O resto, aliás, é Costa da Caparica II, sem a Ponte, ou Carcavelos II, se se quiser, sem São Julião.

A zona a evitar é, contudo, aquela que dá para a Praia da Rata (o seu nome oficial, Praia das Moitas, semi-pomposo, nunca pegou!), por debaixo do que resta do Estoril-Sol, e que agora dá cartas como «praia da moda» para quem é avesso ao vento do Guincho ... vá-se lá a saber porquê, em ambos os casos.

Ali, é ver-se aquelas 2 baiúcas, armadas em pseudo-burguesas, pejadinhas de oiro de fazer inveja aos ciganos que por lá passavam há 20-30 anos e que impingiam aos miúdos relógios roubados ou haxe em tablete. É ver-se as esplanadas anárquicas, ocupando demasiado Paredão, é ver-se os clientes virados para o sol, como otários que são, é respirar-se o cheiro a grelhados, e sentir rebentarem-se os tímpanos com os decibéis não de tijolo mas de colunas de hi-fi. É ver-se os tugas exercitando-se naqueles aparelhómetros ridículos para desbaste dos «pneus»; as palmeiritas mirradas e semi-mortas, os apalermados chapéus piramidais de revista de ambientalista (alguém é capaz de explicar porquê esta recente aversão ao toldo de pano listado?). Ele são as excursões familiares, dos arredores e de intramuros, a que só falta o gato; ele são os pescadores que pescam as taínhas que resistem ao esgoto. Ele é o comboio que teima em ser feio e barulhento. Ele é o corrimão metálico.

Depois, volta a ser o Paredão a que me habituei, que passa à frente do condenado Hotel Atlântico (mais um inovador edifício de vidros na calha...), apesar daquela rampa e dos w.c. idiotas por debaixo da estação do Monte, e que vai até ao Tamariz, onde se interrompe novamente; sim, porque onde estavam os solários e as camas das bailarinas do Casino está agora a «batucada da vida». Regressa de novo, e em força, a partir do castelinho devoluto, e prossegue, sem parar mais, até à Poça e à Azarujinha, resistentes, ainda ao «pugresso», apesar daquele soalho à «Calçadão» que, indubitavelmente, foi o golpe de misericórdia num Paredão que era castiço, genuíno, agreste e «meu».

Foto: Praia das Moitas

5 comments:

Pedro said...

...será uma grande perca, se Cascais copiar o patético exemplo de Oeiras, que se tornou numa espécie de promotor de "coisas-produto-plásticas" de uma espécie de corporacion dermoestética para o corpo da cidade, pelo qual o grande público se deixa arrepiar de prazer epidérmico... uma tentação populista que -espero - seja dominada pelo comandante da Câmara de Cascais que (a meu ver, numa observação - muito minha - políticamente incorrecta) parece um último reduto de sobriedade no muito, muito, muito, triste panorama político, encimado em especial, pelo panorama dos comandantes (e candidatos a comandantes) da navegação das cidades.

Paulo Ferrero said...

perfeitamente de acordo e não acho que politicamente incorrecto: AOC é um exemplo a seguir, mas como ando sempre à procura do excelente, fico sempre decepcionado
à primeira falha e este novo Estoril-Sol é uma nódoa num pano que gostava que se tivesse mantido limpo. Eu sei que sempre há o benzovaque, mas deixa sempre cheiro no tecido. Uma chatice. Bom, mas podia ser pior...

Anonymous said...

não concordo de todo...
Chamem-me populista e até mesmo provenciano se quiserem, mas acho que o paredão está muito melhor do que estava com o seu pavimento estragado, e trouxe a vida "saudável" ao paredão.
Se preferem os ciganos, com as tabletes de haxixe, tenho pena, podem sempre ir tentar encontrá-los noutras paragens

Pedro said...

na parte da "vida saudável"... também estou estou de acordo. ...mas, na verdade o desgraçado do paredão ressente-se do excesso de usos. É uma espécie de "serve para tudo", com a falta de outros sítios no Concelho, e sem ter a dimensão/capacidade de um maravilhoso "Central Park".
Também o uso - com os meus agradecimentos, a Deus, à natureza, e à população e Câmara Municipal - para melhorar a minha saúdinha.
Só gostava é que o dito "paredão" não fosse tratado na "Corporación dermoestéticaurbana".

Paulo Ferrero said...

Nuno Brum,
Não é para concordar. É apenas um desabafo, e meu, de mais ninguém.
E é de tudo uma questão de gosto. mas também de memória, só isso.
Haxixe? Isso passou de moda, mas como nunca fui de modas...
Ciganos? Agora são outros. É tudo profissional...
Volte sempre.
E, se gosta de Cascais, fica feito o convite/desafio a participar neste blogue.
PF