Monday, November 26, 2007

À LUZ DA VELA

Ontem à noite faltou a luz lá para os lados de S. Domingos de Rana. Não é incomum. Uma vez por outra lá vem o escuro roubar-nos o conforto da luz e da electricidade. Os senhores da EDP, uma vez simpáticos outras não, dizem sempre o mesmo. «Avaria na sub-estação da Parede. Seremos breves.» A conclusão a que eu chego é que esta sub-estação é muito problemática. Ou então tem mau feitio. É sempre ela a dar problemas! E sobretudo quando mais precisamos dela, isto é, em noites frias como a de ontem. Enfim. Tudo isto para dizer que, descontada a fúria da ausência de um bem que consideramos de primeiríssima necessidade mas que gastamos à fartazana como se não houvesse amanhã, é interessante ver como as sociedades modernas se tornaram dependentes da electricidade. Demasiado dependentes. Assustadoramente dependentes. Vejam bem que, ontem, vi-me no desespero de querer telefonar para a EDP a descompô-los pela falha mas não consegui pois o meu telemóvel estava sem bateria! Queria escrever mas tinha o computador também sem bateria. Queria arquivar uns papeis mas não via nada. Queria ver televisão mas também não dava. Queria ligar o rádio mas o fio preto em direcção à tomada insinuava o fracasso. Queria fazer um sumo de laranja mas a máquina não dava. Queria aquecer no microondas uma sopa, no way. Queria... queria simplesmente luz. Desesperadamente luz. Só me restava ler. A lua, essa, coitada, não tem pavio que chegue para iluminar as páginas de um livro. Valeram-me as velas. À luz da chama, lá consegui terminar "A morte de um Apicultor" de Lars Gustafsson. É isso mesmo. Valham-nos as velas. E é precisamente a elas que vai, hoje, a minha sentida homenagem. Por falar nisso, tenho de ir comprar mais...

PS1: E esta dependência está tão enquistada no nosso insconsciente que, mesmo sem luz, andamos pela casa a ligar os interruptores. É o vício!

PS1: Dizia eu... gastamos como se não houvesse amanhã. Basta para isso dar uma olhadela à construção que se vai fazendo por aí. Sem qualquer critério. Sem uma nesga sequer de preocupação pelas novas energias. O lema é gastar e gastar muito. Mas também, o que poderíamos esperar destes tempos em que o consumismo é o núcleo principal que move as sociedades modernas?!

1 comment:

Pedro said...

Ricardo, o seu post fez-me gostar mais um bocado deste blogue.

...e quero sublinhar "gastamos como se não houvesse amanhã" e a construção que se vai fazendo... há nova legislação sobre isso. Como sempre, vestida da quimera que sonha que, legislando tudo se melhora (em Portugal!!). Mas sobre isso: assisti a uma reunião onde se "determinou" (para efeitos dessa legislação) quem tem "competências" e "conhecimentos" suficientes para fazer construções "sustentáveis" e económicas no que respeita a consumos de energias e recursos... a velinha que tinha acendido junto da minha "quimerazinha de estimação" apagou-se de súbito.